A grande figura, o triunfador, no Debate entre os sete candidatos à Câmara de Lisboa chama-se Nuno Graciano. Não oferece discussão. Tratando-se de alguém que (para recorrer a linguagem técnica) está todo queimadinho, conseguiu envergonhar a concorrência ao aparecer com textos para ler, enquanto os outros falavam de improviso como irresponsáveis que são. Este Graciano teve o cuidado de consultar um advogado, talvez mais do que um, para conseguir perceber o que dava ou não dava para dizer no debate. E depois, em coerência, andou aos papéis sempre que era chamado a intervir. Isto revela prudência e até sageza.
Mas foi em parelha com o candidato da IL que teve o seu contributo mais valioso, marcando profundamente o que o distingue da corrupta classe política. Está registado para a História, uma hora e dez minutos corridos:
NG– Até hoje ainda só não houve um acidente [de aviação], graças a Deus, por mero acaso.
BHS– Eu não acho que foi graças a Deus, foi graças ao avanço tecnológico, um avanço que é permanente.
NG– Eu acho que foi graças a Deus, também.
Inteligências apressadas limitar-se-ão a constatar que Nuno Graciano é um homem de fé, como aliás é público há muito e muito tempo. E que, seja pela sua experiência da oração ou pelo afincado estudo da exegese bíblica, conseguiu aceder a um conhecimento espiritual que relaciona o tráfego aéreo do aeroporto da Portela com as preocupações diárias de Deus. Tudo isso é verdade mas quase que se torna irrelevante perante o que nos revela ao ter juntado na mesma frase, no mesmo nexo lógico, as noções do divino e do aleatório: “graças a Deus, por mero acaso.” Ou seja, na teologia graciana o acaso é uma vontade de Deus, por um lado, e, simetricamente, Deus é ele próprio uma substância ocasional, pelo outro. Isto é revolucionário e lindo.
Não se pense, contudo, que a utilidade do candidato do Chega em Lisboa se esgota nos seus dotes místicos e proféticos, ele igualmente deu uma grande ajuda ao candidato do PSD quando trouxe para o debate a capa que o esgoto a céu aberto tinha preparado com tanto carinho para isso mesmo. Oferta que Moedas não desperdiçou, assim demonstrando que um pulha é um pulha é um pulha.
Ocasião para perguntar: Moedas, és pulha graças a Deus ou por mero acaso?
POR VALUPI
Do blogue Aspirina B
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