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terça-feira, 28 de setembro de 2021

2295:

 Medina teve menos 2294 votos do que Moedas em 242 751 votantes e com 476 750 inscritos. Não chega a um ponto percentual a diferença para o resultado da poderosa coligação de 5 partidos da nossa magnífica direita. Simbolicamente, é como se a derrota do incumbente tivesse sido por um voto. Significa que se tratou de um fenómeno nascido do acaso, não sendo por isso possível destacar uma causa singular, apenas se pode mapear a distribuição dos votos perdidos na comparação com os resultados de 2017. É uma situação análoga à da surpresa perante a vitória de Donald Trump contra Hillary Clinton, onde 5 anos passados não se encontra uma singular explicação convincente para o sucedido. Precisamente por ser o efeito de dezenas de milhões de decisões demasiado complexas, em cima da complexidade do sistema eleitoral americano, para os modelos de análise política e sociológica.

Medina apareceu para as declarações da praxe trazendo um homérico olhar de espanto e incredulidade. Sabia o que lhe estava a acontecer mas não acreditava, esperou a cada segundo da tortura que alguém se aproximasse vindo dos bastidores ou da plateia para o acordar do pesadelo. Merecia que um pintor captasse o seu rosto, o rosto de quem contempla a catástrofe de ver a realidade no seu esplendor de coisa outra. Súbito, descobria com horror que o Universo não estava assim tão interessado no que lhe pudesse acontecer e qual viesse a ser o seu destino político. A última imagem captada do destroçado Fernando, já na rua de mão dada à esposa, confundia-se com a de um gaseado da Guerra de 14-18 que estivesse a regressar da linha da frente. Oh, the humanity!

Medina pediu para o deixarem em paz nos próximos dias, escusando-se a fazer previsões sobre o seu futuro. Precisava de descansar, alegou. Mas tal não é verdade, ele precisa de tudo menos de descanso. Porque a experiência por que está a passar é maravilhosa, literalmente. À sua frente está uma encruzilhada, a hora é crucial. Pode afundar-se na depressão, ou querer fugir da Câmara para o Governo, ou até fazer uma sabática da política. Se for por aí, estará a declarar que, de facto, foi derrotado pelo inane Moedas e que se sente derrotado por si próprio. E pode decidir aceitar o empurrão que levou para ganhar velocidade e superar a surpresa que o deixou em choque: assumir o mandato de vereador para ajudar a Cidade numa conjuntura politicamente tão difícil para a gestão de curto, médio e longo alcance da edilidade. Afinal, se a sua derrota é “pessoal e intransmissível”, então o resultado eleitoral é da sua inteira responsabilidade. Afinal, se queria ser presidente por acreditar assim ir ajudar os lisboetas, por maioria de razão quererá continuar a ajudar os lisboetas num quadro em que eles ainda precisam mais da sua ajuda, tanto os que votaram nele como os que votaram nas outras candidaturas.

A coerência é um potente sinal de integridade. E a integridade é a substância mesma da coragem. Medina pode ter passado pelas dores de um parto, um segundo nascimento, na noite de 26 de Setembro de 2021. Está nas suas mãos cortar o cordão umbilical e de imediato começar a dar os primeiros passos do que poderá ser uma segunda metade da sua carreira política infinitamente mais valiosa do que a primeira. Haja vontade para reconquistar 2294+1 votos lisboetas em 2025.

POR VALUPI

Do blogue Aspirina B

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