Em tempos tive um encarregado
que, muito justamente, se indignava com os reparos de alguns clientes, quando
se apressavam a sugerir outras alternativas para o que lhes era dado como obras
concluídas e coincidentes com quanto constava do respetivo contrato.
- Engenheiros de obras feitas são
fáceis de encontrar! Mais difíceis os das obras por fazer!
E, de facto, mesmo anuindo com as
sugestões desses clientes a posteriori - quase sempre constatei ser falsa a
tese de terem alguma razão! - tinha de, concluída a reunião de entrega da obra,
convir com esse colaborador, que havia pertinência do que desabafava. Esse é um
dos malefícios do ser-se português: podem-se fazer maravilhas, que poucos as
reconhecem, não faltando bitaiteiros, quando a chico-espertice os leva a
darem-se ares!
É isso que se passa atualmente na
política portuguesa: o governo de António Costa vai produzindo resultados
melhores do que os expectáveis - o mais recente foi o do crescimento do PIB em
2019! - mas quem se lhe opõe, à esquerda ou à direita, nada diz em seu abono,
finge não os ver, fecha as orelhas para os não ouvir, e procura novos
argumentos com que possa exercer o ofício da maledicência. E aí coincide com
outra característica da arte de ser português: a de, pior do que não fazer, é
pretender impedir que se o faça. Nesse sentido encontramos sempre matéria para
o demonstrar: quer-se construir um aeroporto viável para aligeirar o de Lisboa,
que está a estoirar pelas costuras, e levantam-se dificuldades só recenseadas,
quando a decisão para a obra avançar se tomou. Garantem-se uns milhões de
fundos europeus para melhorar a utilização do metropolitano e criam-se
coligações negativas inconstitucionais para a travar. Pretende-se dar a
liberdade de morrer dignamente a quem carece de apoio para pôr fim ao
sofrimento e logo surgem os que querem impor aos demais os preconceitos, que
apenas seus são.
Às vezes não é fácil ser prior
nesta freguesia...
Publicada por jorge rocha
Do blogue Ventos Semeados
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