Eu até posso compreender o estado
de desânimo de Mário Nogueira: tendo exagerado nas expetativas possíveis de
alcançar viu-se desautorizado por uma realidade muito distante da que afiançara
tangível. É normal que, colocando-se o céu como limite, a frustração de só
alcançar os patamares mais baixos da atmosfera frustre o bastante para agir
emotivamente sem olhar com o mínimo de racionalidade os seus atos.
Vem isto a propósito do
lamentável episódio do Conselho de Ministros em Bragança, que quase foi
invadido pela horda protestaria de Nogueira e seus seguidores. E, sobretudo,
para o facto de haver quem, à esquerda, secunde a justeza do comportamento em
causa.
Convém ter em conta que vivemos
numa sociedade onde devem imperar as normas de direito democrático entre as
quais se inclui o respeito por quem foi eleito para as suas funções. Essa
legitimidade não pode ser contestada por arruaças insurrecionais, que podem dar
efémero gáudio a quem as lança, mas põem em causa valores bastante mais
relevantes. Duvido até que os principais dirigentes do PC subscrevam esta
estratégia de Nogueira: embora a possibilidade de uma revolução transformadora
surja como consequência da criação de condições materiais para a tornar
possível, elas encontram-se muito distantes de se verificarem pelo que a agora
concretizada colide com a tendência legalista do PC nesta conjuntura de
democracia burguesa.
Acaso tivesse sido bem sucedido o
Nogueira serviria de exemplo para, doravante, qualquer movimento contestatário
achar-se no direito de o imitar e invadir as instalações onde o governo se
reunisse. A perspetiva de golpe de Estado, que não lhes estaria nas motivações,
entraria facilmente no imaginário coletivo como hipótese consistente. E, nesse
sentido, um qualquer grupo de neonazis veria nela uma forma de rapidamente
ganharem maior notoriedade. Não esqueçamos que a primeira tentativa de golpe de
Estado de Hitler - o chamado putsch da cervejaria em 1923 - não foi muito
diferente do que Nogueira agora intentou!
É por isso mesmo que esteve em causa
um grave atentado ao Estado democrático e por isso merecedor de exemplar
punição. Daí que reste ao PC uma alternativa: ou avaliza as táticas
inaceitáveis de um dos seus principais cabeças-de-cartaz e perde a imagem de
respeitabilidade e sentido de responsabilidade, que lhe tem sido reconhecida,
ou chama-o à Soeiro Pereira Gomes e aperta-lhe merecidamente os calos.
Sobretudo por servirem aos Venturas estas lamentáveis tentativas de
deslegitimarem quem deve ser inquestionavelmente respeitado.
Publicada por jorge rocha
Do blogue Ventos Semeados

Sem comentários:
Enviar um comentário