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sábado, 1 de fevereiro de 2020

O CDS e a questão Judaica:


Os inquisidores de fatinho e gravata

A nova direção do CDS anda emaranhada — enrascada — com a questão judaica, a tentar controlar os danos causados por um dos seus vice-presidentes a quem fugiu a boca para a verdade e revelou os velhos preconceitos antijudaicos de parte da sociedade portuguesa, ao classificar o diplomata Aristides Sousa Mendes de agiota defensor de judeus e elogiou a PIDE como uma digna instituição zeladora da pureza da fé e da nação cristã como o fora no seu tempo a Santa Inquisição e o seu Tribunal do Santo Ofício.

Não estamos no século XVI quando, em 1536, foi criado o dito tribunal com a finalidade de preservar a unidade dogmática da cristandade e de Portugal. A comunidade judaica mundial detém um avassalador e intolerante poder económico, político, militar e ideológico a nível global que os partidos aqui em Portugal e em qualquer parte não podem afrontar, muito menos os partidos de direita e os seus quadros dependentes dos negócios e da especulação.

As afirmações do dito vice-presidente do CDS, proferidas quando ainda não pensava na repercussão pública delas e se sentia livre para expressar os seus preconceitos ideológicos com franqueza e honestidade, revelam a situação historicamente dilemática das direitas europeias (das burguesias nacionais), por um lado são nacionalistas e racistas quer em termos de classe social quer em termos de origem étnica. Defendem as identidades nacionais assentes em pressupostos de pureza de sangue e de grandeza histórica conseguida por uma casta (de que se assumem como representantes) em nome de uma fé. Por outro, são gente de poder e de riqueza, de negócios e de tráficos que têm de comprar e vender sem olhar a quem. As burguesias europeias, e a portuguesa não é exceção, vivem a clássica situação dúplice de manterem a aparência de honestidade e castidade num lar de virtude e de às escondidas frequentarem o bordel e praticarem a depravação.

O problema, neste caso, foi que vice-presidente do CDS revelou o que não devia. Ele, no seu íntimo, defende, tal como os detentores do poder na península Ibérica nos séculos XVI e XVII, a pureza da raça lusitana, uma ideologia totalitária (no caso da Inquisição o catolicismo romano, como religião oficial) e o controlo e se possível a eliminação de elementos dissidentes, ou simplesmente diferentes, potencialmente perigosos, como os então recém convertidos (pela força) mouros (islâmicos) e os conversos ou cristãos-novos de origem judaica, as feiticeiras e até os sodomitas e os bígamos!

A ideologia da direita — casos do CDS e do Chega — está toda contida nos objetivos da Inquisição quinhentista: a intolerância ideológica, o pensamento único, o ódio a minorias e ao outro, a condenação da depravação de costumes e a defesa da família e do papel das mulheres, consideradas pela inquisição como as principais promotoras da transmissão de valores.

O elogio da PIDE enquadra-se neste programa ideológico inquisitorial que constitui o núcleo duro da doutrina do CDS e do Chega.

As desculpas que o dito vice-presidente do CDS apresentou ou vai apresentar à comunidade judaica em Portugal são apenas tretas de um oportunista sem espinha para que os negócios prossigam. Irá à sinagoga, como, se for necessário, à mesquita, dizer foi um lapsus liguae, desculpem lá, fazendo figas atrás das costas.

O Tribunal do Santo Ofício, criado com a finalidade de preservar a unidade dogmática no seio da cristandade, e a pureza da raça, continua a ser a instituição matriz destes novos salvadores de fatinho e gravata, eles sim, agiotas dos valores morais e éticos.

 Carlos Matos Gomes

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