Grande animação percorre a
direita televisiva quanto à probabilidade de uma coligação negativa entre o
PSD, o Bloco e o PCP para, em conjunto, baixarem para 6% o IVA da eletricidade.
O facto de se tratar de uma hipótese, que reduziria as receitas do Estado em
700 milhões de euros é uma minudência para os porta-vozes dos três partidos
que, ora se escusam a apresentar alternativas orçamentais para compensar esse
valor, ora apostam no mais caricato populismo para as fundamentar. Não admira
que Mário Centeno tenha comentado que caíra a máscara de sentido de
responsabilidade em Rui Rio. Se o hábito faz o monge, aquele que herdou de
Passos Coelho parece modelá-lo de acordo com o que sabemos serem os costumes
laranjas quando o pote lhes fica demasiado distante: a aparente ultrapassagem
de todos os demais partidos parlamentares pela esquerda como se não nos
lembrássemos das dietas de rendimentos e direitos, que nos sujeitaram quando
eram governo.
Convenhamos que o PSD ainda
persiste como direita minimamente digerível no atual contexto da política
nacional. Porque vai-se a ver o ultraliberal Cotrim e quer, de uma assentada, a
privatização do pouco que o Estado detém, como se os exemplos desastrosos de
múltiplas alienações de empresas públicas não bastassem para concluir que essa
é sempre a pior das decisões. Quanto ao Chega fica-nos a proposta do Ventura em
recambiar Joacine para a Guiné-Bissau numa demonstração de um racismo primário,
só ultrapassado pelo seu sequaz que, no comício do Porto, fez gala na saudação
nazi. E o recauchutado CDS torna-se particularmente mediático com o seu
dirigente que chamou Aristides Sousa Mendes de «agiota de judeus» e deu vivas a
Salazar e à Pide.
Anda a revelar-se assaz perigosa
a complacência dos poderes públicos com o atrevimento dos que, defendendo
abertamente o fascismo, o propagandeiam com a maior das desfaçatezes,
convencidos de continuarem impunes quanto ao que criminosamente proclamam. A
História deu-nos já sobejas demonstrações de casos em que, poupando-se os
inimigos, cedo os teríamos como verdugos. O urgente sobressalto antifascista
tarda em despontar. E até pode replicar o que aconteceu recentemente em Itália,
onde o movimento das «sardinhas» conseguiu travar eficientemente a suposta
marcha sobre Roma, que Salvini estava a preparar...
Publicada por jorge rocha
Do blogue Ventos Semeados

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