Depois de ter começado com o
Muito Devagar e passando depois pelo Devagar, pelo Meia Força e culminando no
Toda a Força, eis que este ano 2020 vai acelerando para a sua velocidade de
cruzeiro. Por agora não se podem prever os humores da meteorologia nem o sentido
das correntes, que facilitem ou dificultem o trajeto para a direção pretendida,
mas aqui vamos nós, umas vezes considerando ser esta Terra uma autêntica nave
dos loucos, outras temendo-a ver naufragar devido a algum icebergue
termonuclear, a maior parte dos dias vestindo a farpela de Pangloss ao concluir
ser este o melhor dos mundos por agora possível.
Não houve muito que nos fizesse
sair de um certo ramerrão nesta passagem de uma para outra década. Marcelo
andou a banhar-se lembrando inevitavelmente a prosápia de Mao que, com a mesma
idade e sentindo o poder a escapulir-se-lhe debaixo dos pés, decidiu atravessar
a nado o maior rio chinês, conseguindo com a bravata arregimentar um bando
criminoso de fanáticos. Não foram necessários muitos anos para ver no que dão
estas bizarrias, porque o saldo da Revolução Cultural aí ficou como exemplo
lapidar do que podem dar os banhos de periclitantes líderes ansiosos de
desmentirem a iminente senilidade. Ainda assim, nos discursos que se seguiram,
mormente naquele que os telejornais tanto enfatizaram como o do Ano Novo, essa
intencional refutação não teve correspondência na banalidade das palavras.
Ouvi-o uma, duas, não sei quantas mais vezes, porque sucessivos noticiários
repetiram-no à exaustão, e não houve ponta por onde se lhe pegasse.
Lamente-se nesse sentido o
reflexo pavloviano, que levou quase todos os partidos a virem a terreiro
comentar o que tão vazio chorrilho de palavras injustificaria. Por uma vez -
mas por óbvia exceção - só Rui Rio se portou como a circunstância impunha:
referiu ter-se-tratado de um discurso próprio da quadra em que fora proferido.
E mais não disse porque nada mais haveria a acrescentar.
A caminho da sua certa reeleição
Marcelo - que só tem para gerir o orçamento da sua Casa Civil em Belém,
limitando-se a atirar uns bitaites sobre matérias em que nada manda (e se as
tivesse de si dependentes seria para se comportar como no caso Tancos em que,
apesar de Comandante Chefe das Forças Armadas, logo tirou o cavalinho da
chuva!) - poderia ser visto como uma espécie de melhoral, que não faria bem nem
mal, se não comportasse um principio ativo, que justifica o seu legítimo
afastamento do mercado. Esperemos que as formigas no carreiro encontrem outro
caminho capaz de lhes causar menos perigos nas suas voltas da vida.
Publicada por jorge rocha
Do blogue Ventos Semeados
Sem comentários:
Enviar um comentário