Se o ridículo matasse Jorge Jesus
já estaria morto e enterrado há muito tempo. Pelo menos desde o embaraçoso
convívio com a pintora Paula Rego, quando uma das televisões propiciou o
encontro tão só o ouvira dizer que lhe apreciava a obra.
Mas aquilo que julgávamos o auge
da inconsciente manifestação de analfabetismo cultural, que só pedia meças a
Santana Lopes com as suas sinfonias de Chopin, conseguiu superar-se na grotesca cerimónia com que Marcelo o quis
medalhar a propósito de ter ganho o campeonato de futebol noutro país.
O propósito da homenagem já era em si estrambólico,
apenas revelador de duas coisas: que Marcelo não perde uma oportunidade de
campanha eleitoral para a sua reeleição, mostrando inequívoca imaginação nos
motivos porque consegue chamar a si as câmaras das televisões, mas também o
quanto está rasteirinha a tradição de consagrar com medalhas quem supostamente
faz alguma coisa pela pátria lusa. Se Mário Soares e Jorge Sampaio procuraram
dignifica-la depois das lamentáveis cenas do 10 de junho no Terreiro do Paço
durante o fascismo, Cavaco Silva primeiro, e Marcelo depois, voltaram a
diminuir a relevância de um costume, que só ganha em ser liminarmente
erradicado. Tanto mais que dá o pretexto para que uma múmia do passado (Manuela
Ferreira Leite) aufira injustificados rendimentos obtidos a partir dos meus
impostos só porque exerce o bacoco cargo de chanceler das Ordens Nacionais.
Quanto a Jorge Jesus já não sei
se foi patético no que discursou, se aquilo correspondeu a uma espécie de
involuntário número de stand by comedy, que suscitou nalguns confrangidos
espectadores o sentimento de não lhe achar graça nenhuma. Sentir-se honrado por
ganhar uma medalha com o nome do personagem
histórico que dava nome à praça onde passava todas as manhãs e julgar-se
fadado para ser recordado daqui a muitos anos como aquele que, depois de Pedro
Álvares Cabral, suscitou a fama lusíada no Brasil, corresponde a algo que um
psiquiatra definiria como sintoma de uma narcisismo megalómano.
O lamentável é saber que quem
organizou e viu tão esdrúxula cena não a terá considerado como inteiramente
descabida.
Do blogue Ventos Semeados
Publicada por jorge rocha

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