É bem conhecida a regra segundo a
qual não se deve esquecer o que a História pode ensinar sob pena de se
repetirem os erros em tempos cometidos. Ora, quer nas posições assumidas por
dirigentes dos partidos à esquerda do PS, quer sobretudo pelos seus mais emotivos
apoiantes nas redes sociais, parece regressado aquele caldo de cultura em que
se priorizam as críticas ao governo em vez de serem justificadamente dirigidas
às diversas direitas, desde as alaranjadas, momentaneamente abúlicas, até às
mais extremas, não muito diferentes da subjacente mentalidade fascista.
Esses inimigos de estimação dos
socialistas esquecem que, a exemplo do sucedido em 2011, quando as direitas
contaram com a sua colaboração para imporem a vinda da troika e apossarem-se
das rédeas da governação, nem o PCP, nem o Bloco terão a lucrar com a queda
eleitoral do PS. Pelo contrário todas as machadadas no apoio eleitoral dadas no
partido, que elegem como fulcro da sua contestação, só engrossam os apoios ao
campo contrário. É essa uma das lições, que nunca deveriam esquecer: a lógica
do quanto pior melhor em nada os favorece e só tende a prejudicar
significativamente os que consideram como sua base social de apoio. Os
funcionários públicos e os reformados que sofreram cortes nos rendimentos durante
o desgoverno de Passos Coelho, bem como os que perderam empregos e foram
condenados a procura-los na emigração, bem podem agradecer a Louçã e a Jerónimo
de Sousa quando decidiram associar-se
àquele político de má memória para lhe facilitarem o acesso ao cargo de
primeiro-ministro.
Hoje li que alguém considerou uma
afronta o discurso de Natal de António Costa por, ainda no ano em curso, não
ter dado cobertura ao fim das PPP’s no setor da saúde. Essa posição espelha na
perfeição a incapacidade de olhar para a realidade sem nela ponderar todos os
fatores que a condicionam. Ou será que esses críticos à esquerda ignoram a
ativa militância de Marcelo Rebelo de Sousa contra a ostracização dos
interesses privados no setor? Valerá a pena abrir uma guerra aberta com Belém,
quando o mesmo objetivo pode ser cumprido de forma mais inteligente, mesmo que
não tão ostensivamente imediata?
Essas vozes à esquerda querem
ignorar que, quotidianamente, o governo enfrenta o esforço de demolição do que
vai conseguindo, feito através de uma comunicação social que o toma por seu
inimigo e perante um sistema judicial com ela coligado (vide o indecoroso
comportamento de Carlos Alexandre no suposto julgamento do caso Tancos!). Em
vez de quererem conjugar os esforços à esquerda para adiar o mais possível o
regresso das direitas ao poder, agem como se o quisessem antecipar. E esse é o
tipo de comportamento que já em tempos alguém qualificou muito assisadamente
como um tipo de doença infantil, que urge curar.
Publicada por jorge rocha
Do blogue Ventos Semeados

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