Não será fácil ao governo
socialista concretizar as promessas relativas ao Serviço Nacional de Saúde tal
qual foram anunciadas por António Costa na sua mensagem de natal. Há muitos
anos que surgiram «empreendedores» decididos a transformar num negócio aquilo
que deveria ser uma das prioridades do Estado no dever de garantir o bem-estar
das populações e acreditar que vão prescindir do que lhes rende anualmente
muitos milhões de euros é ilusão em que só um ingénuo pode crer. Sobretudo se,
como já o demonstrou amiudadas vezes, Marcelo tudo fará para garantir a
continuidade desses bons negócios em coerência com o seu voto de há quarenta
anos quando era deputado e votou contra a existência desse SNS.
Por esta altura as empresas dos
seguros de saúde, que auferem milhões à custa das mais valias entre o que
efetivamente pagam aos clientes e o que deles recebem, estarão a agitar o seu
lobby de forma a não verem escapulir-se da sua carteira quem tarda em
compreender o logro por elas representado. E conjugar-se-ão com os investidores
em hospitais e clínicas privadas, que sabem condenado o seu modelo de negócio
se o SNS for tão universal e gratuito quanto a Constituição contempla. Se daqui
a três ou quatro anos o governo conseguir que sejam atempadamente prestados
serviços de qualidade com taxas moderadoras quase inexistentes para que servirá
o megahospital que a CUF está a construir numa das mais movimentadas avenidas
de Lisboa e que, só por si, promete causar uma nova sangria de cerca de mil
médicos hoje vinculados ao SNS?
Bem pode o governo drenar mais
novecentos milhões de euros, que os telejornais darão particular destaque a
notícias de qualquer caso sobre o que possa correr mal nos hospitais públicos
por muito que seja exceção numa realidade quase toda ela merecedora de
justificados elogios. E haverá sempre uma Ordem dos Médicos a travar a formação
de novos profissionais de forma a causar um tal défice de oferta, que situações
como a vivida com a Pediatria no Hospital Garcia da Orta se repliquem com
frequência crescente. Porque há esse outro condicionalismo de ver a Europa em
geral a ter grave deficit de médicos e não ser difícil prever a atração para os
países mais ricos dos que foram formados nos menos abonados.
Ao ouvir um José Gomes Ferreira a
perorar na SIC sobre a mensagem de António Costa pressente-se-lhe a expetativa
de vir a usar e abusar do argumento de qualquer avanço no SNS mais não
constituir do que «propaganda». Mas podemos aventar se, lá no íntimo, ele não
sente o receio de se enganar e ver os patrões para quem serve de marioneta vir
a despedi-lo por se ir revelando cada vez mais fora do prazo...
Publicada por jorge rocha
Do blogue Ventos Semeados

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