Novo triunfo glorioso para Carlos
Alexandre. Com a praça do Conselho da Magistratura lotada pela mais apaixonada
e exigente afición jurisprudencial que existe na Grei, Carlos Alexandre voltou
a cortar duas orelhas e o rabo à Justiça, saindo em ombros levado pela Cofina e
prolongando a ovação de pé que recebe apoteoticamente na indústria da calúnia,
na direita decadente e no populismo bronco e encardido.
Este juiz é o nosso grande
matador, incomparável, super. Consegue recusar promoções para se manter firme
no centro da arena, enfrentando a bandidagem socialista olhos nos olhos antes
de lhe espetar com a espada flamejante da santidade de Mação. Consegue ir para
a televisão promover a sua excelsa pessoa formada na telescola e na missa e,
milagre, arranja espaço para declarar que um certo arguido que lhe foi confiado
pelo Estado e pela Constituição não passa de um reles criminoso – estando,
então, esse famigerado arguido assim exposto sem piedade nas suas misérias
ainda sem sequer ter sido acusado e, três anos depois dessa condenação
televisionada em julgado pelo superjuiz, ninguém fazendo a mínima se será
condenado em tribunal, e do quê, nos próximos não fazemos puto ideia quantos
anos. Agora, tal como a notícia suso relata, consegue despejar por cima de toda
a Justiça portuguesa, também em entrevista na TV, uma suspeição apocalíptica
que só um ser ungido pelo divino conseguiria urdir e proclamar: Ivo Rosa teria
sido escolhido como o magistrado que decide na fase de instrução criminal da
“Operação Marquês” através de um falso sorteio, um sorteio manipulado – ou
seja, Carlos Alexandre declarou que a instituição que representa e onde ganha a
vida (quando também não anda a pedir empréstimos a amigos) é corrupta; que Ivo
Rosa era o corrupto da dupla “sorteada”; logo, que todo o regime é corrupto,
que o mundo é imundo ó pá, quod erat demonstrandum. Perante estas artísticas e
bravíssimas faenas, a nossa Justiça assume que nada pode fazer porque nada
consegue ouvir do que o fulano vozeia alto e altaneiro. O matador cortou-lhe as
orelhas, à Justiça resta aceitar o seu destino de morte e consolar-se na
merecida surdez.
Quando os pulhas, os fanáticos e
as alimárias dizem que Carlos Alexandre faz aquilo que mais nenhum juiz
conseguiria fazer “no combate à corrupção” e no castigo da malandragem, isso de
fingir ser o juiz dos direitos e garantias dos arguidos para efectivamente se
comportar como um aliado dos procuradores e da sua (de ambos, juiz e acusação)
pulsão justicialista, acabamos por reconhecer a provável veracidade dessa
imagem. De facto, talvez mais nenhum juiz a não ser esta ridícula e escandalosa
figura aceitasse o obsceno papel de se fantasiar como a espada do catolicismo
rural profundo para assim gastar os dias a mergulhar na devassa da privacidade
dos “senhores e senhoras de Lisboa”. Almas perdidas para o Diabo. Encharcados
de vícios, pecados, bacanais.
Talvez. É uma fezada.
Do blogue Aspirina B
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