Acredito que o Rui Rio não seja
má pessoa de todo, acredito que, no cômputo geral, não tenha sido um péssimo
presidente de Câmara, acredito que, à frente do saco de gatos que é e sempre
foi o PSD, ele nem seja dos piores que por lá passou. Mas é daqueles erros de
casting que não dá para disfarçar. Acho
que é daqueles casos em que um assessent lhe iria mesmo a calhar, para ver se
atina com as coisas em que se mete. Por exemplo: poderia eu ter uma brilhante
carreira como cantora de ópera? Claro que não, não levo jeito nem para o Ó
Rama, ó que linda rama, quanto mais para a Carmen ou para a Butterfly. Está
bem, está. Mas, lá está, tenho noção disso. E é, justamente, dessa noção de que
Rio carece.
Como manga de alpaca, o Rui Rio
estaria óptimo: ninguém teria nada a dizer, ninguém se demitiria, ninguém vinha
dizer nada para os jornais, não haveria artistas e intelectuais a queixarem-se
ou vice-presidentes a demitirem-se, chingando o pobre coitado de ditador, de
ser um orelhas moucas, um centralizador e o escambau. Agora nas aventuras em
que ele se mete, claro, só dá barraca. Uma falta de jeito que dá pena. Farto de
ser conotado com uma bota de elástico, agora resolveu armar-se em modernino e
pimbas: correu com toda a malta, não ficou pedra sobre pedra. Ã frente das
listas só malta jove (assim mesmo: jove, sem m no fim), desconhecidos,
putativos falcoezinhos, jotinhas recém nascidos, imberbes e deslumbrados, já
todos a defender o planeta e o ambiente e essas causas que, de repente, ficaram
in. Ou seja, foi ao partido e fez uma razia: nem autarcas, nem barões, nem
malta que anda há anos e anos a dar o corpo ao manifesto. Tudo para o lixo. E
nem digo que isso é bom ou mau porque laranjadas misturadas com sacos de gatos
é coisa que não me assiste, não opino, nas tintas. Só digo é que percebo que a
malta que dá votos se sinta renegada. Desapareceram do filme, da foto de
família: uma limpeza soviética, uma lavagem a la Mao, coisa radical, photoshop
feita com lixívia. Portanto, como é bom de ver, essa malta que foi de asa não
vai descansar enquanto não fizer a folha ao manguitas de alpaca que, como é bom
de ver, não vai ter como defender-se. Não tem trunfos.
É que aposto que, no meio daquela
estonteante falta de jeito, nem é bom de dança.
Snowball, the cockatoo, esse, sim,
é um caso, um exemplo. Não apenas dança ao som da música que ouve mas, na
verdade, adapta a coreografia, fazendo passos elaborados e surpreendemente
ajustados. Dezasseis tipos de passos.
E, vendo-o, penso: ainda há quem
se sinta o rei da cocada preta, desdenhando dos outros animais. Eu gostava de
ver quantos desses narcisos enfatuados que por aí andam seriam capazes de
competir com esta catatua.
Não sei o que é que a habilidade
de Snowball diz sobre a parasitária espécie humana (vide o que um/a leitor/a
simpaticamente aqui deixou no outro dia: "Humanos são praga no
planeta", diz David Attenborough) mas a mim deixam-me com vontade de mostrar
este vídeo a um certo pé de chumbo que eu cá sei, a ver se aprende. Talvez se
enchesse de brios e me puxasse para o tango a preceito. Mas, cá para mim, não é
só a mim que o catatuo seduz. Ah não deve ser, não.
E uma coisa é certa: se o Rio e o Snowball forem a votos, até me filio no PSD só para ter o prazer de votar no cockatoo. E, no fim, a ver se não era ver o Rio a sair pela porta dos fundos e o Snowball a subir ao palco em passo de dança. Ai não, não.
E uma coisa é certa: se o Rio e o Snowball forem a votos, até me filio no PSD só para ter o prazer de votar no cockatoo. E, no fim, a ver se não era ver o Rio a sair pela porta dos fundos e o Snowball a subir ao palco em passo de dança. Ai não, não.
Do blogue Um jeito manso:
Sem comentários:
Enviar um comentário