A frustração é um estado de alma
que ensombra demasiada gente. Talvez não tanta como a inveja, própria de quem,
insatisfeito com a sua condição individual ou comunitária, prefere a nivelação
por baixo ao esforço de sustentação da ambição no trabalho. É conhecida a
anedota do português e do norte-americano que, na Avenida da Liberdade,
vislumbram a passagem de uma potente viatura automóvel, enquanto caminham,
divergindo nos comentários.
O português sentencia “aqueles
ainda vão andar a pé como nós”. O norte-americano proclama, em sentido inverso,
“não, ainda vou ter um carro como aquele”.
Nenhum acontecimento como a
transferência de João Félix do Sport Lisboa e Benfica para o Atlético de Madrid
colocou tantos espécimes do comentário e das tribos clubistas da azia na rota
da anedota. Sim, autênticas anedotas.
“A cláusula de 120 milhões é uma
loucura, nunca será paga por ninguém”. “O Atlético não vai concretizar o
negócio”. “João Félix não vale os 120 milhões.” “A época e a opção de João
Félix vão correr mal.” “Só aconteceu porque o agente era Jorge Mendes”. “Investigue-se”.
E outras projeções de uma incontornável azia e inveja.
Tal como o da Avenida já devia
saber trabalhar com sentido de futuro, a intriga do jornal da manhã, a espuma
de um dia qualquer e uma espiral de corridas atrás do prejuízo só dão maus resultados.
É assim na vida quando se afundam órgãos de comunicação social ou quando o
único ativo de vida é analisar o que os outros fazem e esboçar bitaites de como
deveriam fazer. Podem até receber prémios da tertúlia, mais cartilheiros de que
qualquer senso comunicativo, mas, por obra e graça, mesmo para os crentes, o
mais certo é a coisa não ir lá.
Ninguém como o Sport Lisboa e
Benfica investiu em infraestruturas e na formação como pilares de uma
estratégia de afirmação desportiva num país com sociedade e estrutura económica
como o nosso.
Ninguém como o Sport Lisboa e
Benfica incorporou a ambição de investir em inovação, na valorização da marca e
qualificação do contexto proporcionado aos atletas, aos treinadores e aos
restantes profissionais.
Ninguém como o Sport Lisboa e
Benfica foi vítima de um criminoso digital e dos seus conluios, armados em
cavaleiros de um alegado apocalipse justiceiro assente na prática de crime
organizado, negado em qualquer Estado de direito. Dez anos de correspondência
privada, institucional e desportiva de uma entidade cotada na bolsa que
acabaram nas mãos de clubes concorrentes, também cotados na bolsa. E, pasme-se,
nenhuma dessas almas penadas que sustentam que os fins justificam todos os
meios disponibilizou já, numa plataforma qualquer ou ao sistema judicial, o
conteúdo integral das suas comunicações digitais dos últimos dez anos.
O que não nos mata deixa-nos mais
fortes. E o foco deve continuar a ser o de fazer o trabalho de casa, da
formação onde despontam crescentes talentos, do posicionamento do clube em
Portugal e no mundo com os seus adeptos, com uma permanente ambição de
consolidação de um caminho de solidez, sustentabilidade e construção do único
futuro para um clube português, ainda que com impulsos globais.
Os rapazes da Avenida da
Liberdade à nossa volta, entre condicionamentos da UEFA, insuficiências de uma
gestão anquilosada e tumultuosas vivências internas, apesar das derrotas
desportivas e judiciais, já demonstraram que vão prosseguir o caminho de
sempre, a pé, a puxar para baixo e a desejar que a continuação da carreira de
João Félix seja mais próxima da receita obtida pela ida de Herrera (zero) para
Madrid do que dos milhões que o Sport Lisboa e Benfica encaixou.
Há gente que não aprende nunca.
Seguirão a pé e cada vez mais a falar quase sozinhos, afinal como aconteceu
quase sempre por onde passaram.
É tempo de recomeçar a conquista,
do 38 e de tantos outros nos escalões e nas modalidades. Carrega, Benfica!
Do blogue Hugo & Gil
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