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sexta-feira, 26 de maio de 2017

CENTENO E SCHÄUBLE:


Com frequência, nós, os portugueses, somos muito paroquiais, não nos dando conta do ridículo de certas situações, continuando a ficar deslumbrados com muito do que vem "lá de fora", em especial se emanado dos poderes fáticos.
Por isso me pergunto se haverá alguém, no seu perfeito juízo, que acredite que o qualificativo dado por Wolfgang Schäuble a Mário Centeno - "o Ronaldo do eurogrupo" - é algo mais do que um arrogante e achincalhante gozo, feito a propósito de resultados económicos que ele, com absoluta certeza, acha serem muito cosméticos e conjunturais, bem longe das reformas que ele considera indispensável virem a ser feitas, por forma a promover uma redução, significativa e sustentada, da dívida? Que grande ingenuidade estar a comentar e a dar importância à "boutade" do cavalheiro!
E também só a "naïveté" lusitana pode dar um mínimo de plausibilidade à ideia de Mário Centeno vir a chefiar o eurogrupo. Imagino que alguém possa ter falado nisso a Centeno, mas, conhecidos são os equilíbrios (ou melhor, os desequilíbrios) políticos e doutrinários no eurogrupo, e mesmo que possa haver interesse em escolher um socialista para o lugar (dado o excesso de gente do PPE, um pouco por todo lado), esse "socialista" terá de ser do tipo de Dijsselbloem, isto é, uma voz ventríloqua de Schäuble, nunca saído dos "implementadores" exatamente do contrário daquilo que Schäuble preconiza. E que interesse podia ter essa nomeação para nós? Para vermos Centeno a ter de desdizer-se face ao passado recente, vocalizando aquilo com que não concorda? E onde ficaria a "cara" de António Costa, depois de ter assegurado que apoiaria o espanhol Luis de Guindos? Conheço-o suficientemente para ter a certeza de que se não prestaria à trampolinice de Barroso, quando saltou para a presidência da Comissão Europeia, depois de tanto "entusiasmo" revelado com a "candidatura" de António Vitorino.
Por isso, e porque a Europa é o que é e não aquilo que, às vezes, aparenta sê-lo ou alguns gostavam que fosse, talvez não fosse mau haver algum sentido da medida. E muito bom senso.



Francisco Seixas da Costa

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