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sexta-feira, 7 de abril de 2017

Passos à defesa:

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Estive a ver a entrevista a Pedro Passos Coelho.
Passos está acossado. Passou a entrevista toda à defesa. Os entrevistadores, o Gomes Ferreira e o Bernardo Ferrão, não lhe deram muitas abébias e colocaram-lhe perguntas difíceis. O que é estranho, a não ser que, para Balsemão, Passos já seja um estorvo a abater e não um trunfo a jogar com sucesso. Suponho ser essa a leitura a ter da entrevista.
Foi penoso ver Passos Coelho ser confrontado com algumas das suas grandes contradições: Que votaria à esquerda se o programa económico do governo tivesse sucesso, por exemplo. Passos trocou os pés pelas mãos quando confrontado. Que o governo é que teria mudado de programa económico e não ele. Sem comentários.
Foi penoso ver Passos confrontado com o facto de o diabo não ter vindo – isto é um novo resgate ao país -,  e com o facto de ainda poder vir ou não. Passos diz que não quer que venha – apesar de o ter invocado -, mas recusou-se a dizer se ainda acredita que possa vir ou não.
Sobre o sucesso económico deste governo Passos continua a não querer ver o óbvio, ou seja, que os factos desmentem tudo aquilo que ele antecipava como desgraça, dizendo que o crescimento de 2016 foi inferior ao de 2015.
Também não se esqueceu de mandar a farpa a Marcelo, um dos seus inimigos de estimação, o catavento, como dizia Passos. Que Marcelo devia ter vindo à liça defender Teodora Cardoso e a possibilidade de o Conselho de Finanças Públicas criticar o governo e as suas políticas. Coitado. Passos, ainda não percebeu como é que a Geringonça se aguenta. Ele deixou tudo minado com os seus homens de mão. A Teodora, o Carlos Costa, e todo o aparelho de estado, Directores Gerais, quadros intermédios, e por aí fora. Que Costa tenha, até ao momento, conseguido driblar toda essa tropa de choque é obra.
Criticou a solução encontrada para o Novo Banco, esquecendo que quem determinou o cenário de resolução do Novo Banco foi ele próprio e o seu governo, e quem aceitou, junto das instituições europeias, o prazo para venda do Novo Banco foi também ele próprio e o seu governo.
O que não lhe foi perguntado é qual a razão por que discorda das políticas do atual governo, e o que faria de diferente. Não concorda com a reposição de salários? Não concorda com a anulação da sobretaxa do IRS? Não concorda com a reposição de pensões? Na verdade, Passos não concorda. Queria continuar com a austeridade. Mas se o dissesse, seria a consumação do desastre eleitoral do PSD para todo o sempre. Nesse aspeto, os entrevistadores pouparam-no.
E sobre a Europa e o Euro. Nada lhe foi perguntado. Acha mal Passos cumprir as metas do déficit impostas por Bruxelas? Pelos vistos não. Mas que discorda da forma como o governo as alcançou. Tudo bem. Deviam os entrevistadores ter-lhe perguntado como é que Passos as iria alcançar. Claro que nós sabemos como o faria: manteria os cortes em salários e pensões. Mas teria sido importante forçá-lo a dizer isso mesmo. Nesse aspeto teve o beneplácito e a cobertura dos entrevistadores.
Em suma. A realidade tem muita força. Até o radical Passos Coelho teve que aceitar que a gestão de António Costa – situando-se dentro da mesma matriz de aceitação das regras europeias que o PSD subscreve -, conseguiu melhores resultados que as políticas económicas de austeridade que Passos serviu ao país durante quatro anos.
No fundo, cumprindo as regras europeias e a permanência neste Euro, estamos condenados a viver em austeridade. A grande questão é saber quem são os grupos sociais que a vão pagar em maior medida. A oposição de Passos Coelho a este governo é que ele tenha aliviado a fatura dessa austeridade que é endossada aos trabalhadores e aos pensionistas. Sim, porque Passos sempre governou contra eles, não tendo a coragem de o dizer abertamente e escondendo-se atrás do manto protector da troika.
(Por Estátua de Sal, 06/04/2017)

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