A TVI elaborou a lista dos 30 portugueses com mais poder em Portugal.
Sérgio Figueiredo, ao promover a iniciativa, realçou que o poder não é
discutido cá pela terrinha, daí o mérito e urgência da análise que iríamos
finalmente poder fazer a respeito de tão magna questão. Acontece que depois o
que saiu foi uma lista onde até a Cristina Ferreira, o Toni Carreira, o
Ronaldo, o Mourinho, o Jorge Mendes e o Horta Osório têm lugar. A que se
acrescenta um mistério: na redacção da TVI sabe-se que o poder de uns artistas
de variedades e do pontapé na bola, mais o de um estrangeirado, é superior ao
da Cofina ou do mero CM. De facto, o Sérgio tem razão. Existem em Portugal
sérias dificuldades cognitivas na abordagem deste assunto, mesmo quando tratado
por um grupo de cromos na matéria como devem ser os jornalistas da TVI.
Pois a montanha pariu um cavalo de raça. A conversa ocorrida entre João
Cravinho e José Miguel Júdice, onde discutem a escolha, é imperdível. Cravinho
passou o tempo todo a dizer ao José Alberto Carvalho que a lista devia entrar
numa outra lista, a lista das coisas mais ridículas do ano de 2015, pelo menos,
tamanha a grandeza dos disparates. Júdice aproveitou para deixar aquela que
será a melhor explicação até agora conhecida no espaço público para o fenómeno
de perversão da Justiça a que estamos a assistir. Dando como exemplo a
disfunção de Carlos Alexandre, que deixou de se comportar como juiz dos
direitos e garantias e passou a assumir o papel de super-polícia, fez o
diagnóstico sistémico da reacção corporativa que está a unir as magistraturas
do ministério público e a judicial numa aliança que gera um desequilíbrio cujo
resultado não é a melhoria da Justiça mas antes o culto do magistrado
justiceiro.
Esta interpretação, para além da sua razoabilidade e verosimilhança,
permite abordar o problema sem necessidade de recorrer a teorias da
conspiração, sejam corporativas ou partidárias. Permite até colocar a questão
técnica relativa às condições psicológicas daqueles a quem se entrega tanto
poder. Por exemplo, o Carlos Alexandre poderá ser alguém impecavelmente íntegro
do ponto de vista legal e moral e ainda um exemplo sobre-humano de entrega ao
TRABALHO. Todavia, basta que ele se arrogue a liberdade de abdicar da defesa
dos arguidos até ao limite da Lei para já merecer o afastamento compulsivo.
Onde é que estes tópicos se discutem? À porta fechada, lá nas catacumbas ou
casamatas do edifício judicial, daí a relevância das palavras de Júdice. Se não
me falha a memória, desde a última vez que estive a estudar o assunto na
Wikipédia, a Justiça ainda é um dos pilares da vida comunitária e dos regimes
democráticos, pelo que, se calhar, às tantas, vai na volta, até será algo sobre
o qual os cidadãos deverão ter o melhor e mais exaustivo conhecimento que for
possível obter.
Estamos perante 24 minutos de programa. O que dá à volta de 10 minutos
para as declarações de Júdice. Nada mau. É que podia ser pior.
3 SETEMBRO 2015
ÀS 18:40 POR VALUPI EM ASPIRINA B
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