É a mais antiga universidade italiana, foi fundada em 1303 e tem o mais
belo dos nomes para a função que pratica, La Sapienza, A Sabedoria. No mês
passado, mas só ontem se soube, convidou o mais improvável especialista para
participar numa aula de criminologia: o capitão Francesco Schettino. Ele falou
aos alunos sobre "gestão do controlo de pânico numa situação de
crise". O capitão Schettino, lembram-se? O comandante do navio de cruzeiro
Costa Concordia que em janeiro de 2012 naufragou nas rochas da ilha de Giglio,
na Toscana. Ele foi dos primeiros a pôr-se a salvo enquanto centenas de
passageiros permaneciam no navio sem que lhes gerissem o controlo do pânico.
Morreram 32 descontrolados. Itália - um país que tem milhares de boas razões
para nos ser simpático e mais esta: dá--nos o péssimo conforto de não estarmos
sozinhos na produção de noticiários absurdos (olá, ministro Pires de Lima, bela
frase a sua, ontem: "Acontecimentos no BES são inexplicáveis") -, a
Itália, pois, ficou em estado de choque com mais este disparate. O jornal
Corriere della Sera fazia esta comparação: "É como se o Drácula desse uma
aula sobre anemia." Atenção, La Sapienza tem uma desculpa para o seu
despropósito: o naufrágio já tem dois anos. Ninguém nos garante que daqui a dois
anos Ricardo Salgado não volte a dar uma aula magna sobre a vida dos
portugueses acima das suas posses.
FERREIRA FERNANDES
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