Para os batoteiros, o problema com os jogos de azar é o azar, entendido
este último como acaso. Os aldrabões profissionais não confiam no acaso. Por
isso viciam os dados, drogam os cavalos ou compram jogadores... No entanto, há
sempre uma chance de lhes calhar o acaso. Por exemplo, um batoteiro anular
outro: há uma anedota brasileira que diz que jogo viciado na Bahia acaba sempre
empatado (uma equipa faz por perder mas a outra também). O ótimo, pois, seria
ter todas as chances do seu lado. Como aquele ditador africano que resolveu o
assunto anunciando os resultados eleitorais antes do escrutínio: "Assim
não há fraude", explicou-se ele com certa lógica. E é depois disto que
caímos em pleno noticiário de ontem com a Procuradoria-Geral da República a
abrir um inquérito à suspeita de um jogo de futebol entre os portugueses do
Freamunde e espanhóis do Ponferradina, que foi metido na bolsa de apostas
internacionais. É claro que a história estaria em tentar perceber o mistério
que leva um tipo de Hong Kong a investir um cêntimo que seja num assunto de que
não percebe nada. Mas o caso Freamunde-Ponferradina tem um lado inovador: é que
o jogo não se realizou. Quer dizer, os batoteiros nem precisaram de comprar
jogadores, inventaram o que lhes deu na gana, um 1-1 ou um 37-5. Isto abre
perspetivas fantásticas para nossa alta finança. Para a próxima nem precisam
das tretas dos bancos, podem ir diretamente para o assalto.
Ferreira Fernandes
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