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sábado, 25 de maio de 2013

Os Palhaços:

O circo percorria as aldeias da província. Um fim-de-semana aqui, ora ali outro. A petizada alegrava-se com a sua chegada e ficava triste com a sua partida. No desfile que faziam pelas principais ruas da aldeia, como forma de publicidade, participavam todos os elementos do circo. Até os animais mais ferozes mas resguardados nas suas jaulas. A atracção era total. Mas o que mais era admirado pela catraiada eram os palhaços. Sabedores disso punham todo o seu talento para cativar espectadores. Acabado o desfile davam início à montagem da tenda.
A Junta de Freguesia cedeu o espaço a título de graciosidade sem contudo exigir que no dia da apresentação isso fosse referido. É que as eleições autárquicas estavam à porta e como os portugueses são exímios neste tipo de coisas há que dar com uma mão e receber com a outra. Chegou o dia marcado para a estreia do circo.
O recinto estava a abarrotar. Além da maioria dos habitantes dessa aldeia compareceram uns quantos de aldeias vizinhas que sabiam de antemão que não iam ter a visita do circo. Decorria o espectáculo e todos os números estavam a ser do agrado do público: orquestra, equilibristas, ilusionista, trapezistas, cães amestrados, leões, só faltavam os palhaços. Nesse momento deram entrada em cena e foi o delírio geral. As piadas e as actuações estavam ao rubro. Não era só a ganapada que ria. Os adultos riam a bom rir.
Foi aqui que a minha memória retrocedeu uns anos. Era pequeno e fui com o meu pai a uma matiné do circo. Esse circo só tinha um palhaço mas valia por uns quantos. Era costume o palhaço actuar na parte final. Nesse dia foi dos primeiros a actuar. Não compreendia o motivo. Regra geral actuam no fim para ficar bem vincado na memória dos espectadores e servir de corrector para uma qualquer anomalia.
No final e quando nos dirigíamos para casa disse ao meu pai que não compreendia o motivo. O meu pai que era bastante familiarizado com o dono do circo disse-me: 
- O motivo da actuação ser mais cedo é que o Elias – nome do palhaço – tem de ir tomar parte no velório e funeral do pai que se realiza após o findar do espectáculo. 
- Fiquei estupefacto! Como podia ser! Um ser humano no meio de uma perda enorme - que é a do pai - ter disposição para fazer rir uma plateia de pessoas.
Por isso ainda hoje admiro a classe de palhaços. Que fazem do triste alegre e do alegre triste. Que não se importam que zombem deles. Só que entendo que deviam pedir explicações quando alguém os compara a pessoas medíocres.
Miguel Sousa Tavares devia ser responsável pela contrafacção que fez com Cavaco Silva. Cavaco Silva está a anos-luz de qualquer Palhaço. Só sabe fazer palhaçadas. Para prova disso basta ver a admiração e o elogio à ordenha das vacas, à protecção que dá a sua esposa por causa da fraca reforma que aufere. Se estes casos não são palhaçadas, não sei o que são.
Os Palhaços têm um intuito. Fazer rir quem os ouve. Cavaco Silva é o seu contrário. Dá comiseração a quem o vê e ouve. Ainda hoje recordo uma frase que um palhaço do Circo Águia – na altura dos melhores que percorriam o interior do País – dizia em jeito de despedida: chora… chora, que o Circo Águia vai-se embora. A alegria que Cavaco Silva nos dava se fizesse o mesmo. Mas… aqui não chorávamos. Riamo-nos.            

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