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terça-feira, 2 de abril de 2013

Quarenta anos é muito tempo:


Faz hoje precisamente que me estava a despedir de Luanda. No dia três, às nove horas e trinta minutos, partia rumo a Lisboa a bordo do Boeing 747 que estava destinado ao transporte do soldados portugueses que estavam ao serviço de Portugal nas várias províncias como eram chamadas naquela altura.
Neste dia dois restava aproveitá-lo para essa despedida e dar cabo dos últimos angolares que sobravam em recordações e presentes ou outras coisas supérfluas. Também dar uma visita aos vários lugares que durante quinze dias me foram familiares: Mutamba, Avenida dos Combatentes, S. Paulo, Bairro Operário, Bairro Marçal, Ilha, Marginal de Luanda e, outr0s mais.
Do Bairro Popular não me referi porque foi ali que habitei nesses quinze dias em casa do Abílio de Oliveira Martins, (Rangel) como os amigos o tratavam e sua esposa Dona Gininha que já não se encontra entre nós e que para mim foi uma segunda mãe.
Só, boas recordações, nesta última estadia. Serviram para desanuviar os quase vinte e três meses passados em Balacende onde só existia o quartel.
Como referi a partida estava marcada para as nove horas e trinta minutos e por esse motivo dei cabo dos últimos angolares. Só que não contava com o contratempo que nos veio a acontecer.
Há hora prevista para partimos para o aeroporto, fomos informados que a partida sofreu alteração devido a uma avaria no avião. Desânimo total.
As rações de combate que julgávamos ter acabado voltaram a ser-nos servidas pelo motivo de já não estarem a contar connosco para o almoço. A maioria de nós rejeitou tal ementa. Socorremo-nos de umas sandes compradas no bar do soldado do Grafanil.
Eu, que já tinha dado cabo dos angolares e que rejeitei a ração de combate só me restava um dia sem almoço. Só que quem tem amigos não morre na cadeia. Foi o que me aconteceu. 
Um colega meu disse-me para o acompanhar ao qual respondi que não o fazia porque não tinha dinheiro para o repasto. Responde-me o meu colega. 
- Quem te perguntou por dinheiro? Respondi-lhe. - Estou a avisar-te porque não gosto de “golices”. - Acaso durante estes dois anos não pagaste nada a mim? É claro que sim -respondi-lhe. E, assim lá fomos os dois comer umas sandes e beber as últimas cervejas Nocal. Até que chegou a hora desejada. 
Chegados ao aeroporto fomos acomodados dentro do avião e às quinze horas e quarenta minutos levantou voo.
Demos duas voltas a Luanda e aqui podemos observar como era linda! 
Ainda hoje a recordo e não a visito por questões financeiras. Se não fosse esse o caso, há muito que o tinha feito.
Matar saudades de Balacende, Quicabo, Maria Fernanda e Margarido. 
Nessa viagem comer umas moelas e frango de churrasco no Caxito. 
Ir visitar a barragem das Mabubas. 
Passar pelo Cacuaco e ver se ainda se nota o cheiro a marisco e assim comer umas gambas e camarão. 
Passar pelos bairros Operário, Marçal e S. Paulo e recordar nas suas janelas, o convite que nos faziam, para uns minutos de “amor”. 
Dar uma saltada à ilha e aproveitar para uma ceia no restaurante Baleizão. 
Tomar um café nos cafés esplanadas na marginal. 
Dar uma saltada a uma cervejaria na avenida dos Combatentes beber umas imperiais e que nos ofereciam uns pires de feijoada. 
Dar uma saltada ao Grafanil para ver no foi transformado. E tantas coisas mais.
Só que isto está a uma distância de quarenta anos. E, em quarenta anos dá-se muita transformação. 
Estou ao corrente disso através do canal internacional da televisão de Angola (TPA), que me tem mostrado que o Caxito era uma vila e hoje é capital do distrito do Bengo. 
Na cidade que se transformou o Cacuaco. 
Da zona industrial que foi construída em Viana e assim sucessivamente.
Sei que chegava ali e tudo era diferente. Mas, mesmo assim gostava de ali ir e ver esta nova realidade. Sempre senti um carinho especial por Angola, especialmente pelos sítios relatados.    

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