Rádio Freamunde

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quinta-feira, 17 de maio de 2012

A minha turma escolar:

Era o dia oito de Outubro de mil novecentos e cinquenta e seis. Nas escolas Amarelas, situadas na rua do Comércio, Freamunde, compareceram os gaiatos nascidos no ano de mil novecentos e quarenta e nove, para o primeiro dia de aula. As gaiatas também nascidas nesse ano tiveram o seu primeiro dia de aula nesse mesmo local e dia mas em escola diferente. Havia a separação de sexos. Por isso se alcunhavam de escolas masculinas e femininas. Ambos os edifícios ainda existem, as Amarelas, até ao ano passado serviram de salas de aulas, agora para ambos sexos, e as chamadas femininas, servem hoje de posto da (G. N. R.) Guarda Nacional Republicana.
No primeiro dia éramos acompanhados pelo nosso pai ou mãe. Depois da chamada éramos distribuídos por turmas. A mim calhou-me a turma maior, ou seja, a turma com maior número de gaiatos que iniciavam a vida escolar, tendo como mestre-escola o professor Valente. No ano de mil novecentos e quarenta e nove nasceram cerca de quarenta e cinco crianças do sexo masculino - reporto-me ao número de mancebos que foram às “sortes” -, como as turmas eram cerca de trinta alunos, os restantes foram para outra.
Ali começou a nossa camaradagem. Alguns de nós já éramos amigos e companheiros de brincadeira mas a maioria não se conhecia. Cada um tinha o seu feitio, mesmo assim, íamos-mos compreendendo. Se assim não fosse tínhamos a “compreensão” do professor Valente. No recreio brincávamos uns com os outros numa área restrita. Os mais velhos eram possuidores de todo o espaço e ai de quem os contrariasse. Faziam isso porque outros já o tinham feito a eles. Era uma forma de praxes como se usa nas universidades. Acabado o dia de aula, depois de termos aprontada a nossa sacola, era ver qual o primeiro a sair. Parecíamos um bando de pardais à solta.   
Outro e outros dias iguais nos iam aparecendo. Chegou o fim do ano escolar. Um ou outro companheiro ia-nos deixar: tinha reprovado. A turma não ia ser igual. Assim como na nossa houve reprovações, na outra acima - segunda classe -, também devia haver. Era um castigo brutal. Além de terem de repetir o ano escolar iam perder o mais significante: a camaradagem. Mais um ano se ia tornar num martírio. No aspecto do ensino estavam mais um pouco avançados do que os outros que iam entrar pela primeira vez. Mas tinham de arranjar novos amigos.
Assim aconteceu mais tarde, na segunda, terceira e quarta classe. Até que chegou o exame final. Quem o concluiu passou para outra fase da vida. Uns foram estudar para o liceu, outros para fábricas, agricultura e construção civil com o intuito de aprender um ofício. Arranjaram-se novos amigos. A vida do ser humano está sempre em mutação.
Não se arranjava forma de promover uma reunião entre todos os gaiatos nascidos no ano de mil novecentos e quarenta e nove. Havia a companhia e amizade entre alguns: no trabalho, no liceu, no desporto e no lazer. Mas entre todos isso não acontecia.
Até que chegou o dia da nossa ida à inspecção militar. Aqui tratou-se de contactar um a um para combinar a forma como íamos celebrar esse evento. Aqui, em Freamunde, era usual na véspera desse dia, alugar-se à senhora Maria Bombeira, dois bombos e meia dúzia de tambores e rufar todo o dia e toda a noite. Organizar um jantar num restaurante local, mas antes tínhamos de saber quais os comensais. Assim aconteceu e foi a forma de todos nos reunir. Hoje é mais difícil e alguns já não estão entre nós. Em tempos fizemos umas concentrações anuais mas acabou por ter o seu fim derivado ao comportamento de alguns.
Hoje com este escrito juntei a maioria deles na minha memória.  

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