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sábado, 19 de maio de 2012

Lembrar as Sebastianas de outrora:


Estamos a quarenta e sete dias do seu começo. Já se sente o seu cheiro.  Tal como ontem nota-se a azáfama e o nervosismo na cara dos festeiros. Não é para menos. Os encargos são muitos.
Quem como eu com uns bons janeiros em cima do lombo recorda-se como as Sebastianas eram festejadas antigamente. Não havia a tecnologia de hoje e as dádivas com que os Freamundenses contribuíam nada se assemelha. Não havia os patrocínios – casos das cervejas Sagres ou Super Bock – em que muito contribuem para a realização de certos eventos que noutros tempos eram impensáveis. A publicidade contribui com um certo quinhão. Sei que há uns três, quatro anos era mais rentável. 
Com a crise de emprego que há hoje leva a que muitas empresas não queiram a publicidade. Publicitar o que não se vende! É como chover no molhado. Mesmo assim, julgo que agora é mais fácil fazer as Sebastianas do que há vinte, trinta anos. Nesses anos, e noutros ainda mais atrás, as contrariedades eram maiores. Era difícil arranjar uma comissão de festeiros. Não se era tão organizado e não se vivia as festas como se vive hoje. 
Não era porque a juventude não era alegre ou não gostava de festas. Adorava-as! Só que a vida era totalmente diferente. Os baixo níveis de vida, as preocupações que tinham com a ida à tropa por causa da guerra ultramarina. Nesse tempo, jovens de Freamunde que cumpriam serviço militar em Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde e Timor eram mais de meia centena. Ali passei quase dois anos o que quer dizer que não assisti a duas festas Sebastianas: mil novecentos e setenta e um e setenta e dois. Só Deus e eu sabemos o que sofri.
O não ver o acender da iluminação antes um dia, como experiência, os arcos que nesse tempo eram em madeira, as lâmpadas não eram de tantas cores, o não ouvir o concerto das bandas de música, principalmente a nossa; o não assistir à passagem da procissão e marcha alegórica, que percorrem as principais artérias de Freamunde, não ouvir a girândola de fogo, causava uma tristeza imensa! Nesses dias às vezes éramos "compensados" com tiroteio que nos lembrava essas famosas girândolas. Vinha-me à memória tempos passados. As vacas de fogo, o Quim “Loreira” com os seus famosos discursos no coreto da banda. O Quim “Bica” com as bisnagas de água e a dizer aí vai “mel”.  
O Quinzinho, o Zézinho e mais outro que não recordo o nome que antes uns quinze dias das festas vinham para Freamunde. Dormiam nos palheiros do senhor Vitorino Ferreira e nuns que existiam no lugar das Eiras em Freamunde de Cima e alegravam-nos com o seu Cavaquinho, Ferrinhos e Tambor. Depois da actuação pediam-nos uma pequena dádiva para alimentar os seus hábitos - fumar e beber uns copos de vinho. O jogo de futebol que se realizava na tarde de segunda-feira de festas com uma selecção de brasileiros que jogavam em clubes portugueses em que entre eles faziam parte: Edmur, Bártolo, Caiçara, Jaburu e outros. Findo o jogo era-lhes oferecido um jantar e alguns permaneciam para a noitada. 
Recordo a noitada de segunda-feira. O cortejo tinha sido fenomenal! O senhor Leopoldo Saraiva aprimorou na confecção dos carros alegóricos. A marcha alegórica como sempre saía depois da hora prevista. Ia bem organizada. O Luís Monteiro trazia a Tuna de Figueiró bem ensaiada. Os instrumentos eram à base de canas de foguete e gazeta mas os acordes saiam na perfeição. 
Todos ficavam pasmados e diziam que valeu a pena o tempo de espera! Outros, de fora de Freamunde, diziam: não hajam dúvidas é... difícil igualá-los! 
Os cafés eram poucos e fechavam após a passagem da marcha alegórica. Para saborear toda a noitada não íamos à cama. Às cinco e meia íamos ver o nascer do sol e beber água para o fontanário do Agrêlo e comentávamos: oxalá as do ano que vem que sejam iguais. Mas... enganávamos: eram melhores. Hoje, a quarenta e tal anos de distância, sabe bem recordar esses tempos.

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