Rádio Freamunde

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sábado, 6 de agosto de 2011

A propósito do 5 de Agosto:

No dia de ontem enquanto aguardava pela saída do funeral do Orlando “Rola”,  o seu corpo estava em Câmara Ardente, no Quartel dos Bombeiros Voluntários de Freamunde, o que acontece com todos os Bombeiros e Corpo Directivo, entendo uma medida acertada como forma de homenagear quem ao serviço do bem público dedica parte da sua vida. Por esse motivo, tem o velório e acompanhamento da Corporação dos Bombeiros, lembrei-me do dia cinco de Agosto de mil novecentos e sessenta e quatro.
Mas... como dizia enquanto aguardava a saída do funeral e como o quartel dos bombeiros fica defronte da ex-fábrica - “Grande” – de Albino de Matos Pereira & Barros, veio-me à memória esse dia trágico em que ali deflagrou um incêndio de grandes proporções como ontem relatei aqui no “Coisas que Podem Acontecer”. E, como a memória não pára e não tem férias, trouxe-me à lembrança coisas passadas com o Orlando. Fazia uma diferença considerada de anos de mim (14) e é por isso que recordo enquanto criança factos que presenciei.
Todos os domingos era visita assídua de minha casa no lugar da Bouça. Isto acontecia pelo facto do Orlando ser o cobrador semanal de um sorteio que o Zé Nogueira, filho do Toninho Nogueira, – ambos falecidos – fazia e tinha como finalidade a angariação de clientes. 
Todas as semanas saía um prémio, sorteado pela Lotaria Nacional. Nesse tempo não havia mais nenhum jogo dirigido pela Santa Casa da Misericórdia – hoje há Totobola, Totoloto, Loto 2 e Euromilhões. Resta acrescentar que o prémio era atribuído ao detentor dos últimos três números. O felizardo do vencedor deixava de pagar a partir dessa data o valor semanal do cartão e recebia a totalidade do valor do prémio que regra geral consistia em artigos de fazendas, lãs, sapatos ou outras miudezas já confeccionadas. Era este o motivo da visita assídua do Orlando. 
Era criança e ficava aborrecido pelo apelido que me chamava: "Frita". Pelo tempo fora e com o meu crescimento tive sempre a honra de o ouvir a chamar-me o apelido de meu pai. Retorquia com o meu: olá “Rola”. Assim continuou.
Como o tempo avança, quer para um quer para outro, a diferença de idades já não se nota tanto, passamos a ser parceiros no jogo da “Loba” a rebuçados no Café Malheiro em que entre outros estava o Álvaro da “ Gandarela” e o Zé “Polícia”. Sempre com o cigarro na boca – nesse tempo podia-se fumar em recinto fechado - não parava de jogar. Ia sempre ao jogo. Tivesse bom ou mau. Tremia com o lançar de qualquer carta para a mesa, picava-se bastante vezes; o picar condiz que quando uma carta é lançada para a mesa e uma pessoa está “grogue” só pode gesticular à carta que dê para completar a “Loba”, caso contrário, só a pode completar com a carta que vá buscar ao baralho, se não é considerado “picado”. Mas... o Orlando picado ou não acabava por ganhar. A sorte acode os audazes! O Orlando, sempre pela vida fora foi um.
Todos os dias na hora do meio-dia estava sentado na esplanada do Café Malheiro à espera de uma boleia de automóvel da sua filha. Eu, em avô me tornei e a sina dos avós é ir buscar os netos à escola quer ao meio-dia quer ao seu encerramento. Quando ali passava com o Duarte e o Diogo que são os meus dois netos, primos entre eles, mimoseava-os com o apelido de “Frita”. O mais novo fazia-lhe uma cara feia, o outro com um... que queres “Rola”. 
Chamava o meu neto à atenção por causa do tratamento por tu mas era logo repreendido pelo Orlando que dizia: - "deixa o miúdo tratar-me assim e que seja por muitos anos".
As Escolas de Santa Cruz deixaram de existir no dia vinte e seis de Abril , neste dia abriu o Centro Escolar de Freamunde, inaugurado no dia vinte e cinco, assim como, a passagem pela beira do Café Malheiro com os meus netos  e o Orlando “Rola” no dia quatro de Agosto de dois mil e onze.      
Paz à sua alma.

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