(Fórum da Escolha, in Facebook, 24/11/2025, Revisão da Estátua)

Enquanto os atores vão ensaiando, a Rússia, que não participa nas discussões, vai continuando a destruir o exército ucraniano e a conquistar território.
O único acordo de paz que um dia será assinado será o da capitulação da Ucrânia, que Trump tenta evitar a todo o custo mas que a Europa não quer.
As imagens de Genebra deveriam ter sido vistas com um certo distanciamento — digamos, o distanciamento de um espectador que já sabe que o episódio é uma repetição. Marco Rubio, o novo Secretário de Estado na versão da “paz expressa”, apareceu perante as câmaras com o sorriso de um vendedor diplomático de aspiradores. Afirmou, sem pestanejar, que as discussões tinham sido “as mais produtivas e importantes” de todo o processo. Só isso. Quase se ouvia a orquestra sinfónica atrás dele. Além disso, segundo Rubio, tudo está a avançar: “progresso enorme”, um plano de “26 ou 28 pontos, dependendo da versão”, e apenas restam “algumas questões” para resolver.
Vindo de um país onde o Congresso não consegue sequer aprovar o seu próprio orçamento, a promessa de um acordo de paz rápido é quase um milagre bíblico. Rubio diz ainda que compreende as “linhas vermelhas” de Moscovo. Um feito admirável: compreender linhas vermelhas que 30 anos de diplomacia ocidental ignoraram cuidadosamente. Mas desta vez — prometemos — compreendemos. As linhas vermelhas russas? Muito simples: tudo o que o Ocidente tem vindo a propor nos últimos dez anos, só que ao contrário.
Enquanto Washington se agita, Kiev luta para recuperar
O único momento sincero do dia veio da imprensa americana. O Axios revela que a fase inicial com os ucranianos foi… como podemos dizer… tensa. Os norte-americanos acusaram Kiev de ter “vazado informações negativas” sobre o plano aos meios de comunicação social. Porque, claro, um país em guerra, exausto, arruinado e 90% dependente da ajuda externa… ainda sonha em negociar.
No Politico: Em Genebra, a Casa Branca garante-nos que os ucranianos declararam finalmente que “a atual proposta reflete os seus interesses”. Claro. Imagine a cena:
Washington: “É do seu interesse, certo?”
Kiev, cercada, exausta, dependente: “Sim, sim… totalmente do nosso interesse…”. A diplomacia é também uma forma de teatro. Trump, por sua vez, já nem sequer está a atuar.
Depois vem Donald Trump, que tem a delicadeza de um rinoceronte numa loja de porcelana. Denuncia os “ingratos líderes ucranianos”, acusando Kiev de ser responsável pelo conflito com a ajuda das anteriores administrações americanas — nomeadamente, Biden, Obama, Bush, Jefferson e, provavelmente, Luís XIV. Mas admite que os Estados Unidos continuam a enviar, e cito: “enormes quantidades de armas para os países da NATO para transferência para a Ucrânia”. Uma espécie de lavagem de dinheiro militar: não entregam diretamente, externalizam a entrega. Como um traficante de droga que usa um subcontratado para manter as mãos limpas.
E a Europa em tudo isto?
A Europa, fiel ao seu estilo, observa à margem. Não se pronuncia, apenas comenta. Não decide, apenas espera. Não negoceia, apenas “apoia o processo”. Não nos preocupemos: tudo continua como sempre.
Genebra apresenta um “avanço histórico”, Moscovo diz que não viu nada, Washington afirma que percebeu tudo e Kiev repete o que lhe dizem.
Conclusão. Genebra 2025 ficará para a história não como uma cimeira de paz, mas como um momento em que todos fingiram acreditar — exceto talvez Trump, que acredita apenas em si próprio.
E enquanto diplomatas e generais competem para ver quem mente melhor, apenas uma certeza surge: Não é um acordo que está a ser preparado. É um álibi.
Do blogue Estátua de Sal
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