Serve este introito, embora atrasado, para que conste nos anais dos ilustres Freamundenses que com a sua maneira de ser elevaram e elevam o nome desta terra pelo Mundo fora, quer em actos ou acções, não posso deixar de revelar esta importante e modesta entrevista, não fosse ele (Arlindo) um modesto filho de Freamunde. É quando nos encontramos ausentes da nossa terra que mais valorizamos os eventos, a sua gente, as tradições e, que por vezes nos faz rolar uma lágrima desprevenida pela face abaixo. Por isso e depois de ler e reler esta entrevista não a posso deixar passar despercebida. Já foi noticiada em alguns blogues de Freamunde mas nunca é demais referenciá-la para que um dia, quem sabe, umas décadas, os Freamundenses vindouros tenham acesso a saber quem foi esta figura.
Manuel Pacheco, em Coisasquepodemacontecer.
Pe. Arlindo Ferreira Pinto, em Roma
Cidadão do mundo mas com coração freamundense.
Arlindo Ferreira Pinto, 54 anos de idade. Nos livros oficiais de
Freamunde, o seu nome consta no registo de Baptismos, na Escola Primária, na
Telescola e no Sport Clube de Freamunde.
Foi guarda-redes por pouco tempo, pois o chamamento vocacional cedo o
vinculou aos Missionários Combonianos. Fez os estudos de Filosofia em Coimbra e
formou-se em Teologia Moral na Universidade de Innsbruck (Áustria) e em
Jornalismo, em Roma (Itália). Foi ordenado sacerdote em Nampula (Moçambique),
em Dezembro de 1986. Em Lisboa, foi director das revistas missionárias
combonianas “Além-Mar” e “Audácia” durante quase sete anos. Soma 18 anos de
vida missionária em Moçambique, cinco dos quais em plena guerra civil.
Nos últimos 13 anos foi capelão e docente na Universidade Católica de
Moçambique (UCM) e coordenador do Departamento de Comunicação da Faculdade de
Educação e Comunicação, em Nampula. Desde Janeiro deste ano, está a trabalhar
na Direcção Geral dos Missionários Combonianos, em Roma. Andanças que, apesar
de tudo, não demovem o Padre Arlindo de ser um grande Freamundense.
Foi a esta figura a quem pedimos para falar de Freamunde e do espírito
que preside à realização das Sebastianas, agora que as festas estão à porta.
Entrevista (via correio electrónico)
Que memória guarda das Festas Sebastianas? De que ano são, na sua
memória, as Sebastianas mais antigas?
Pe. Arlindo (PA): Anos 70. Foi há 41 anos que iniciei o êxodo que me
foi afastando da terra das gentes com boca (Munde) de paz (Frieden): Freamunde.
Primeiro para perto, Famalicão e Maia, e depois sempre para mais longe:
Coimbra, Santarém, Lisboa, Innsbruck, Nampula, Roma, Cidade do México... mas
sempre com o cordão umbilical dos sentimentos ligado às tradições e aos
acontecimentos da terra “mátria” que me viu nascer e crescer.
À resposta “Sou de Freamunde”, corresponde sempre uma réplica
automática: “Ah, terra da Música, do
futebol, dos capões, das vacas do fogo...” É o que os portugueses guardam da
nossa terra na sua memória.
O que sempre mais me atraiu a Freamunde foram as Sebastianas. Sempre
que pude, as minhas férias tinham de coincidir com a segunda semana de Julho.
Adoro encontrar a família e os amigos neste clima ímpar de euforia. E como eu,
acho, a maioria dos freamundenses da diáspora. Nestes dias de festa, encontramos
facilmente os amigos e aproveitamos para colocar a escrita em dia.
Tenho a memória viva dos concertos e do caldo verde na antiga Praça,
toda vedada a serapilheira. Recordo a Banda de Freamunde a fazer vibrar os
corações da assistência, sobretudo quando, a horas tantas e entre o ruído dos
carrosséis, dos aviões e dos “carrinhos-de-choque”, entoava “Oh Freamunde, oh
festas Sebastianas...” ou ainda “Quem nasceu na Gandarela...”. Aquele delírio
colectivo que só faz bem! Lembro a majestosa procissão de domingo à tarde e as
multidões curiosas deliciando-se a ver passar a “Marcha”, na segunda-feira à
noite. E tantas outras memórias do nosso folclore!
Alguma vez participou na organização, de forma directa ou mesmo
indirecta?
(PA): Na organização propriamente dita não. Mas como padre colaborei na
Missa de Festa. Fiz mais do que uma vez a homilia da missa de festa – “o
sermão” da festa, como se costumava dizer noutros tempos. Participei também na
procissão, caminhando debaixo do pálio, levando o ostensório por debaixo de uma
capa de asperges (pluvial) de cujo peso nem vos quero falar. E aqui, não posso
deixar de mencionar aquele momento emocionante ao passar na Gandarela e escutar
aquele fogo-de-artifício a querer demonstrar a força da devoção ao Mártir que
pisa o seu território e ao mesmo tempo a afirmação do orgulho e do bairrismo da
parcela de um povo que sempre se distinguiu entre a população de Freamunde.
Sendo um Homem da Comunicação (foi director das revistas "Além
Mar” e “Audácia") como define este espírito Freamundense que preside a
esta organização?
(PA): Os cidadãos só adquirem sentido de pertença a um território e a
uma comunidade quando são capazes de conviver e partilhar entre si os mesmos
sentimentos sem olhar à origem social ou económica, à diferença de idades ou de
políticas, ao género... em suma, o que as Sebastianas conseguem. Quantos
momentos dos dias das festas fazem da pluralidade e diversidade dos
Freamundenses um colectivo homogéneo: nos bombos, na sardinha assada e no caldo
verde, na corrida das vacas. É este espírito de comunicação – saber estar em
comum – que dá o fascínio e a mística às Sebastianas.
O que distingue, em sua opinião, as Sebastianas de outras festas desta
natureza? Acha que São Sebastião poderá estar, de alguma forma, zangado porque
nas Sebastianas o programa pagão tem mais peso e é esse lado que atrai milhares
de pessoas a Freamunde?
(PA): As Sebastianas são uma festa de cultura, de arte, de ritmo, e de
muita algazarra. Um acontecimento único nas redondezas. Quanto ao resto, conte só
quanta gente vem ver a Procissão de domingo! Estou certo de que se não é o
primeiro é o segundo momento mais alto das Sebastianas. Talvez só a Marcha
alegórica congregue tanta gente! Depois, além da Missa de Festa, temos a
novena, a homenagem aos falecidos, que são todas manifestações religiosas. E
além disso, o próprio nome das festas mantém a marca religiosa: Sebastianas, em
clara referência ao mártir S. Sebastião. Em poucas palavras, eu diria que os
Freamundenses sabem cultivar em profundidade um diálogo magnífico entre o
sagrado e o profano.
Há décadas que está ausente de Freamunde, chamado pela vocação
Missionária e pela docência universitária. Continua a acompanhar o dia-a-dia da
sua terra? De que forma? Como vê a sua evolução e progresso?
(PA): Cada vez que vou a Freamunde, numa média a cada dois anos, vejo
sempre um enorme progresso. De todas as maneiras eu estive sempre muito ligado
à minha terra, à família, aos amigos, ao futebol, à nossa maneira de ser. Eu
acho que mentalmente sou um cidadão do mundo mas com um coração sedentário de
aldeão, isto é, de freamundense. Às vezes penso até às lágrimas em tanta boa
gente que conheci e foi muito minha amiga e, por isso, gosto de visitar o
cemitério quando vou de férias.
Há vários anos que é muito fácil comunicar e ter notícias de Freamunde.
Graças à Internet!
Quer deixar uma mensagem para a sua terra?
(PA): Caros amigos Freamundenses, vamos viver estas Sebastianas 2011
como se fossem as últimas. Ou então como se fossem as primeiras ou as únicas.
Todos precisamos de festa, de folia, de divertimento. O lazer tem de fazer
parte do nosso quotidiano. Não podemos passar o tempo a trabalhar e a pensar
nas dificuldades da nossa vida e na vida dos outros. Se fosse assim eu já teria
endoudecido! Vamos colaborar com os organizadores das Sebastianas. Vamos
apoiá-los. Vamos à festa!IN SEBASTIANAS
Sem comentários:
Enviar um comentário