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sábado, 7 de agosto de 2010

Gandarela, lugar onde nasci:


Quem nasceu na Gandarela / por força tem de chorar / o destino que lhe espera / é morrer a trabalhar.
Com este destino o que esperava da vida? Mesmo assim sinto orgulho em ter nascido neste lugar há sessenta e um anos. Podiam-me dar os lugares mais chiques que a minha preferência seria sempre a Gandarela.
Olha a Gandarela / olhai p’ra ela / se quereis aprender / como no momento / o sofrimento / se muda em prazer / lá vai jovial/ não tem rival / p’ra cá da serra d’Agrela / ninguém a confunde / até Freamunde / não era nada sem ela.
Neste lugar o mais pobre de Freamunde, em tempos idos, mas rico no seu habitat. Lugares de sardinheiras, logo pela manhã cedo iam esperar as camionetas que traziam o peixe para ser distribuído por elas que depois o vendiam de porta em porta, pela vila.
Lugares de homens rijos que trabalhavam a pedra - ricas cantarias faziam. Jogadores amadores de futebol, do Sport Clube de Freamunde, depois de deixar o trabalho iam treinar. Jogavam por uma sandes e um copo de vinho. Bailadores e bailadeiras do Rancho de Freamunde. Outros que podia enumerar mas tenho receio de esquecer alguns.
Ainda me recordo nas festas Sebastianas, na segunda-feira de madrugada Quim Loureira; homem com pouca instrução escolar, mas com muita escola da vida, ia para o coreto da música e de lá nos dava um recital de quadras, qualquer poeta, se honraria de as ter escrito.
No princípio dos anos sessenta Fernando Santos, (Edurisa Filho) resolveu escrever a opereta Gandarela, em honra ao lugar, com cenários de Leopoldo Saraiva e música de João de Brito. Que sucesso. As quadras que acima escrevo são dessa opereta, pertencem ao Grupo Teatral Freamundense.
Havia pessoas que ali nasceram, quando lhes perguntavam onde tinham nascido, se diziam que foi no lugar da Gandarela, eram logo marginalizadas.
Sinto orgulho e gosto de lembrar esses tempos mesmo sabendo que o meu destino era morrer a trabalhar. Os tempos mudaram, conseguiram-se grandes regalias sociais e assim os que ali nasceram já não morrem a trabalhar. Antes vão para a reforma. É o que me acontece neste momento.
Em substituição do Quim Loureira ficou o Rodela que nos brinda com belas quadras.

“Gandarela velhinha


Naquela rua velhinha,
Onde mora a solidão,
Faço dela vida minha,
Irei dela p’ ro caixão.

De manhã logo cedinho
Todas as janelas abertas,
Os bons dias ao vizinho
São as palavras mais certas.

As crianças saltitando,
Como pássaros perdidos.
E os velhinhos recordando
Velhos tempos já lá idos.

É assim a Gandarela,
Com seu manto todo cobre.
E Freamunde sem ela
Era por certo mais pobre.

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