Rádio Freamunde

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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Chegada a Luanda:

Desembarcamos na manhã de vinte e seis de Abril, havia muita gente à espera da chegada do Vera Cruz. Não estava nenhum meu conhecido, era habitual, soldados que cumpriam o serviço militar em Luanda irem esperar os amigos para saberem novidades da terra. Eu tinha vários mas nenhum apareceu.
Seguimos para o Grafanil numa carruagem de comboio que qualquer animal irracional se negava a entrar. Ali chegados, fomos para uma formatura com a finalidade de haver uma parada militar, o que não veio a acontecer, a maioria dos soldados começaram a desmaiar, estava um calor horrível.
Ao outro dia à tardinha apareceu o Henrique Costa, meu colega - nascemos no mesmo dia, vinte e oito de Janeiro, mas em anos diferentes, ele em mil novecentos e quarenta e sete eu quarenta e nove - soldado mecânico, que cumpriu todo o serviço militar no quartel do ASMA, em Luanda. Levava-lhe uma lembrança dos pais, quinhentos escudos e um pacote de amêndoas, a Páscoa tinha sido no dia onze.
Nessa noite saímos, fomos jantar à churrasqueira Alvalade ele queria pagar não o deixei, tinha ganho muito dinheiro à batota. Convidou-me para ir às prostitutas ao bairro de S. Paulo, disse-lhe que tinha medo. O capitão da minha companhia avisou-nos que nos bairros de noite era muito perigoso, por não conhecermos nada. Disse para fazer confiança que conhecia Luanda como as palmas das mãos. Acabei por ir, o desejo era muito.
Ao outro dia voltamos a encontrar-nos e levou-me ao hospital militar de Luanda, visitar o Ernesto Pereira, Furriel miliciano, estava ali internado, tinha partido um braço a jogar futebol em Zala. Estava bastante magro. Ficamos contentes por nos encontrar, éramos os três, colegas de brincadeira e de futebol na nossa terra e no nosso Freamunde. Perguntou-me para onde ia. Disse-lhe que ia para Balacende. Fez má cara. Mas, não me disse nada.
O Henrique Costa levou-me a casa do Abílio (Rangel) meu amigo e amigo de meus pais que me convidou a pernoitar em casa dele, em Vila Alice, - atrás do cinema Império - o que aceitei. No Grafanil dormíamos numas tarimbas, os colchões eram de colmo (palha) e estavam cheios de percevejos, optei por ficar em casa do Abílio. No dia três de Maio despedi-me dele e da esposa, ao outro dia de manhã partia para a zona dos Dembos (Balacende).

Continua

4 comentários:

  1. Olá Pacheco: tens um blog de fazer inveja a muita gente, ao escreveres sobre a tua terra chegas a interrogar-te se alguém visitará o teu magnifico trabalho no blog, e realmente as visias são injustificavelmente e incomprensivelmente nulas, tens que divulgar mais o teu trabalho, mereces tu e todos os freamundenses.
    Mas não vim aqui falar de freamunde que a mim não me diz nada, só te visitei por mero acaso de pesquisa, e não é que desenvolves tambem um belo trabalho a nivel de Balacende! estás a ficar naturalmente curioso quem sou eu, olha fui teu camarada de armas em Angola, alíás já em Campolide fomos Camaradas a aprender o alfabetico fonético; em Angola eu era cabo de transmissões precisamente na C.3340 em Quicabo, com certeza que não te lembras de mim, mas eu de ti lembro-me e bem, meu nome de guerra era Forte mais concretamente Abel Forte. Escreve na nete este nome e vês algo mais sobre o nosso batalhão, até uma proxima e até lá um abraço.

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  2. Há gralhas no meu 1º comentário como Freamunde com letra minúscula e erro na palavra visitas, e minuscula tambem em Freamundenses,sabes é o sono porque estou a escrever já de madrugada, já que falei em madrugada já passei algumas madrugadas nas tão famosas sete curvas aquelas a que te referes e que tu e eu sabemos onde ficam, era quando faziamos guarnição aos homens da JAEA, aquando o asfaltamento da picada de Quicabo/Balacende, mesmo sendo 1º cabo fiz isto.

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  3. Abel:
    Sabe bem vir ao blogue e ver comentários de pessoas que passaram as mesmas privações. Não estou a ver quem és, mas sabes, estavas um pouco distantes e a convivência era pouca ou nenhuma.
    Cheguei a ir a alguns encontros do Batalhão mas, da minha Companhia, iam poucos e resolveu-se fazer encontros da Companhia o que acontece uma vez por ano. Os poucos que iam começaram a ser criticados por fazermos encontros e a maioria não ir. Como sabes quem viveu isolado como a Companhia 3341 e 3342 não ficaram laços de amizade.
    Comecei com este blogue porque fui incentivado pelo dono do blogue Aspirina B. Comecei a mandar uns textos, entre eles, da minha partida para Angola e fui aconselhado a fazer um blogue. Percebia e percebo pouco de blogues mas lá me vou desenrascando. A maioria a falar de mim e da minha terra, que muito gosto.
    Vou ver se continuo com este blogue e a finalidade é de deixar algo escrito para daqui a uns anos os meus bisnetos, se os vier a ter, verem a vida do seu bisavô.
    Fui à internet e vi o blogue do Batalhão. De vez em quando vou ali para me inteirar de algo. Também cliquei no teu nome e apareceu algo em inglês o que não soube ler, leio o português e já não é mau.
    Cumprimentos e aparece sempre.

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  4. Claramente que se compreende na tua memoria eu estar apagado, ao fim de nuitos anos tudo se apaga.
    O que nunca se apaga são as memorias do que passamos juntos apesar da distancia das nossas companhias fosse em Balacende fosse em Quicabo ou na M. Fernanda.
    Tenho visitado o teu trabalho nas tuas paginas e penso que como descreves-te a tua vida noutra fase tens capacidade para contar mais coisas da vida militar, coisas que deveriam ficar para a posteridade, vamos a isso.

    Cumprimentos.

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