(Francisco Balsinha, in Facebook, 27/02/2025, Revisão da Estátua)

A Rússia dita as regras do jogo na Europa por uma razão muito simples: ganhou a guerra. Por isso, na segunda-feira, Putin abriu a porta à participação dos europeus nas negociações de paz. Por outras palavras, se os europeus se sentam à mesa, é porque o Kremlin o permite.
A correlação de forças mudou. No outono passado, dois dias após a vitória eleitoral de Trump, Putin falou do início de uma nova ordem mundial. Há alguns meses, o New York Times surpreendeu os europeus quando concordou com Putin: uma nova ordem mundial chegou (Ver aqui).
A Rússia não recebeu nada de graça e está a ganhar em todas as frentes. A resolução da crise ucraniana deve ter em conta as exigências de Moscovo.
“Os europeus, mas também outros países, têm o direito e a oportunidade de participar no processo de resolução do conflito na Ucrânia. E nós respeitamos isso”, disse Putin numa entrevista televisiva.
O Presidente russo explicou outra prova: foram os países europeus que romperam com a Rússia há três anos e que, desde então, se recusam a manter qualquer contacto diplomático.
Cada parte deve estar consciente dos seus limites
A Europa é um continente de ideologias, doutrinas, preconceitos e declarações solenes. A realidade parece secundária. Mas só os interesses e os factos consumados pesam na balança. A vitória da Rússia na guerra da Ucrânia é um deles.
Do outro lado do Atlântico não existe um vício tão enraizado e é por isso que a Casa Branca mudou a sua retórica (Ver aqui).
Agora a guerra ucraniana é um “conflito” e Zelensky é um “ditador” que tem de responder por a ter desencadeado e prolongado. As novas palavras exprimem muitas coisas novas, incluindo uma mudança de estratégia.
A frente anti russa de Washington e dos seus comparsas europeus foi desmantelada. Putin dividiu os seus inimigos. Muitos na Europa começam a duvidar que os Estados Unidos mantenham as suas tropas no Velho Continente (Ver aqui).
Antes do início da guerra, há três anos, Putin apresentou aos Estados Unidos e aos seus aliados europeus várias exigências. Acima de tudo, exigiu o fim da expansão da NATO para as suas fronteiras orientais e, claro, que a Ucrânia fosse mantida fora da aliança transatlântica.
Exigiu também que os EUA e os seus comparsas europeus não enviassem tropas e sistemas de armamento para a Europa Central e Oriental.
Os países ocidentais rejeitaram as exigências do Kremlin e abriram caminho para a guerra. O que não estavam dispostos a ceder por bem ou por mal, vão agora ter de ceder por mal.
Para acabar com a guerra, ambas as partes têm de concordar com um cessar-fogo. Se não se sentarem à mesa das negociações, é pouco provável que a Ucrânia e os seus apoiantes europeus aceitem o acordo que Trump possa assinar com Putin, apesar da pressão que Washington exerce sobre eles.
O grande trunfo são as divisões internas. Trump e Putin vão ativar aqueles que, na Europa, se opõem às políticas dominantes de Von der Layen, Kaja Kallas, Macron, Merz e seus comparsas. É agora do seu interesse levantar o espetro da “extrema-direita”… Desde que não sejam marionetas ao estilo de Meloni.
Bruxelas não tinha um plano B
Bruxelas nunca teve uma política própria, diferente da dos Estados Unidos, e certamente nunca considerou a eventualidade de uma derrota da Ucrânia na guerra, que é a sua. Não tinha um plano B. A sua política baseava-se no impossível: a vitória da Ucrânia.
Os europeus nem sequer pensaram num empate. A recusa de explorar soluções diplomáticas desde o início da guerra, bem como a rejeição do acordo de paz entre a Ucrânia e a Rússia, negociado em Istambul em 2022, transformaram a Europa num ator coadjuvante.
A política europeia também se baseou noutro postulado falso: o apoio dos EUA. Os chefes da Europa estão zangados porque acreditam que Trump já não quer levar a UE pela mão. Mas não é que ele não queira: ele não pode. Essa é a verdadeira mudança que se registou na correlação de forças.
O que dizemos sobre a Europa pode ser alargado à Ucrânia. Em outubro de 2022, Zelensky assinou um decreto que é um monumento à estupidez política: proíbe explicitamente quaisquer negociações com Putin. Até hoje, o decreto ainda está em vigor.
Além disso, o mandato de Zelensky expirou em maio do ano passado e não pode assinar legalmente qualquer acordo de paz, porque pode ser objeto de futuras contestações, ou mesmo ser anulado.
Reduzir para metade as despesas militares
Putin apelou também aos EUA e à China para que reduzissem para metade as despesas militares. “Poderíamos chegar a um acordo com os Estados Unidos: os Estados Unidos reduziriam 50% e nós reduziríamos outros 50%. A China juntar-se-ia a nós, se quisesse. Pensamos que esta é uma boa proposta e estamos abertos a discuti-la”, afirmou.
Em meados de fevereiro, Trump sugeriu que as três maiores potências mundiais poderiam reduzir as despesas militares para metade e que discutiria o assunto com Moscovo e Pequim assim que as guerras na Ucrânia e no Médio Oriente estivessem resolvidas.
A Rússia aumentou acentuadamente as suas despesas militares para sustentar a guerra na Ucrânia, que começou há três anos. A explosão das despesas tem apoiado o crescimento económico russo, mas também tem alimentado a inflação. No ano passado, o orçamento da defesa da Rússia ascendeu a cerca de 8,7% do PIB, de acordo com Putin, o valor mais elevado desde o colapso da URSS em 1991.
Do blogue Estátua de Sal
Sem comentários:
Enviar um comentário