A 29 de janeiro de 2025, ocorreu uma colisão aérea fatal na região de Washington, D.C., envolvendo um avião comercial da American Airlines e um helicóptero militar Sikorsky UH-60 Black Hawk. Ambas as aeronaves caíram no rio Potomac, resultando na morte de todos os ocupantes: 60 passageiros e 4 tripulantes no avião, e 3 militares no helicóptero. Foi o acidente aéreo mais grave a ocorrer nos EUA desde 2001.
As operações de resgate enfrentaram condições adversas, incluindo frio intenso e ventos fortes. Até ao momento, foram recuperados 30 corpos do rio.
Um relatório preliminar da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) indica que a equipa da torre de controlo do Aeroporto Ronald Reagan operava sob condições anormais no momento da colisão, possivelmente devido à falta de pessoal.
O especialista em aviação Geoffrey Thomas sugeriu que o helicóptero poderia estar em voo de treino e que o seu sistema de rastreamento ADS-B não estava ativado, o que pode ter contribuído para o acidente.
Além disso, foi reportado que, pouco mais de 24 horas antes da colisão, um jato teve de realizar uma manobra de arremetida devido à presença de um helicóptero militar na mesma área, indicando possíveis problemas de coordenação no espaço aéreo próximo ao Aeroporto Nacional Ronald Reagan.
O piloto e especialista em aviação John Smith comentou que o espaço aéreo em torno de Washington, D.C., é particularmente intenso e complexo, exigindo uma coordenação rigorosa entre as aeronaves civis e militares. Ele destacou que a falta de comunicação ou falhas nos sistemas de rastreamento podem levar a situações perigosas, especialmente em áreas com tráfego aéreo denso.
Outro fator apontado por especialistas é a escassez de controladores de tráfego aéreo nos Estados Unidos, uma questão que persiste há décadas e que tem causado atrasos e preocupações sobre a segurança da aviação. O Aeroporto Nacional Reagan, onde o voo da American Airlines deveria aterrar, é conhecido pelo seu movimento particularmente intenso, o que pode ter agravado a situação.
O Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA (NTSB) informou que o relatório preliminar deverá ser divulgado dentro de 30 dias, enquanto o relatório final será publicado após a conclusão completa da investigação.
Apesar das investigações ainda estarem em curso, o presidente Donald Trump não hesitou em apontar um culpado para a tragédia: as políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI). Sem qualquer evidência, Trump sugeriu que a contratação de funcionários com base em critérios de diversidade teria levado a falhas na segurança aérea.
Quando questionado sobre a existência de provas que sustentassem essa alegação, Trump admitiu que não as tinha.
As declarações do ex-presidente foram amplamente criticadas como irresponsáveis e infundadas, sendo vistas como uma tentativa de explorar politicamente a tragédia para reforçar a sua base de apoio, que frequentemente se opõe a políticas progressistas.
As conclusões de Trump sobre a relação entre o acidente de avião e as políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) parecem ser completamente infundadas e baseadas mais em retórica política do que em qualquer análise racional.
Independentemente de eu próprio considerar que este tipo de políticas terão por vezes aspectos questionáveis ou cair em exageros, esta reacção de Trump é de um nível de surrealismo que retira qualquer seriedade ou racionalidade que se pudesse ter no debate dessas mesmas políticas.
Primeiro, de facto não há qualquer evidência de que a diversidade no local de trabalho tenha tido um papel na tragédia. Repito, Trump admitiu isso quando questionado, o que indica que a acusação não se baseia em factos, mas sim numa narrativa conveniente para explorar ressentimentos culturais dentro da sua base de apoio.
Segundo, este tipo de discurso não é novo na estratégia dele. Trump frequentemente recorre a ataques contra políticas progressistas, utilizando-as como bodes expiatórios para problemas complexos. O objetivo não é a precisão ou a verdade, mas sim reforçar um sentimento de "nós contra eles" que mobiliza o seu eleitorado.
Além disso, há um nível de cinismo evidente. Trump já demonstrou, ao longo da sua carreira, que muitas das suas declarações são feitas para provocar reações, gerar controvérsia e dominar o ciclo de notícias. Ele pode nem sequer acreditar no que diz, mas sabe que esse tipo de retórica alimenta a indignação dos seus apoiantes e distrai de outras questões mais relevantes – como, por exemplo, a própria responsabilidade de cortes ou decisões políticas que possam ter impacto na segurança da aviação.
Ou seja, estas conclusões não são apenas irracionais e preconceituosas, mas possivelmente desonestas, usadas intencionalmente para fins políticos.
As suas declarações motivaram pois reacções naturalmente inflamadas, nomeadamente por parte do Senador Tim Kaine.
O Senador Tim Kaine "incinerou" Donald Trump pela sua mentira de "revirar o estômago" de que o trágico acidente de avião em Washington, D.C. foi o resultado da "diversidade" no local de trabalho.
"Perguntaram ao presidente se ele tinha alguma prova que sustentasse essa afirmação ultrajante e de revirar o estômago, e ele teve que reconhecer que não tinha", disse Kaine na CNN.
"Imaginem que são membros de uma família e que acabaram de perder um ente querido, e que estão a tentar encontrar respostas e a tentar perceber, e que o Presidente dos Estados Unidos está a tentar culpar as pessoas por razões políticas ou a lançar suspeitas sobre pessoas que alegam ter sido contratadas pela DEI", continuou.
"Quer dizer, conseguem imaginar uma coisa mais prejudicial para quem já está a sofrer do que um presidente a tentar fazer política com uma coisa destas?", acrescentou.
Convenientemente, Trump não mencionou que o líder da Administração Federal de Aviação, Michael Whitaker, se demitiu a 20 de janeiro, depois de Elon Musk ter exigido que se demitisse por se atrever a aplicar regulamentos à SpaceX.
Em vez disso, culpou o seu novo bode expiatório favorito: O DEI.
"Ainda estavam à procura de corpos no Potomac quando ele estava a falar sobre isto. Espero que alguém tenha perguntado ao Presidente Trump porque é que decidiu, a 22 de janeiro, eliminar o conselho de segurança da aviação e o conselho consultivo do Departamento de Segurança Interna", disse o Senador Kaine.
"A ordem para eliminar esse conselho consultivo dizia que não era consistente com a missão da agência em relação à segurança nacional. Que coisa estranha dizer que a segurança aérea não está ligada à segurança nacional", prosseguiu. "Espero que alguém pergunte ao presidente porque é que ele decidiu fazer isso".
De facto, a tragédia aérea de Washington, D.C., deveria, isso sim, suscitar um momento de reflexão e busca por soluções que possam evitar futuras catástrofes. No entanto, o discurso irresponsável de Donald Trump, em vez de contribuir para o debate sério sobre segurança na aviação, serviu apenas para fomentar desinformação e aprofundar divisões políticas.
A retórica do ódio, especialmente quando proferida por um líder político, não é apenas moralmente questionável – é perigosa. Ao culpar falsamente políticas de diversidade por um acidente ainda em investigação, Trump não só desvia a atenção dos verdadeiros problemas que afetam a aviação nos Estados Unidos, como também encoraja um clima de hostilidade contra profissionais que desempenham funções críticas para a segurança do país.
Palavras importam, e quando vêm de um presidente, têm o poder de legitimar preconceitos e influenciar políticas públicas. Se líderes políticos não forem responsabilizados pelo uso leviano de discursos inflamados e desonestos, abre-se um precedente perigoso onde a verdade passa a ser irrelevante e a manipulação ideológica se sobrepõe ao interesse público.
A segurança aérea é um tema sério e complexo, que exige decisões baseadas em factos, não em propaganda política. Num momento em que famílias choram as suas perdas e investigadores trabalham para compreender o que aconteceu, a prioridade deveria ser o respeito pelas vítimas e a busca por respostas reais – não a vergonhosa instrumentalização do luto para ganhos eleitorais.
Por tudo isto é portanto legítimo perguntar: As pessoas estavam à espera do quê quando o reelegeram? É apenas Trump sendo Trump.
M.T
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