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segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

.POEMA imitado de Pablo Neruda .para o Eugénio de Andrade .de Manuel Dias da Fonseca:

 

.A Paz nasce nas folhas duma pequenina erva.

.A Paz nasce como a água: nas mãos dos homens.

.A Paz nasce nos olhos dos camponeses

e no sorriso de João.

.A Paz nasce numa rosa branca

ou no grito duma locomotiva

erguendo fontes no silêncio da noite.

.A Paz nasce quando vejo o meu camarada

e me diz: bom dia!

.A Paz nasce no martelo que se levanta.

.A Paz nasce quando leio Walt

dormindo entre os cocheiros.

.A Paz nasce quando os amantes se mordem

como se uma charrua rasgasse a terra.

.A Paz nasce com José.

.A Paz nasce quando o pescador abraça o seu irmão.

.A Paz nasce quando a minha mãe me diz:

Deus te abençoe, meu filho!

.A Paz nasce quando uma espingarda se cala.

.A Paz nasce com a liberdade

ou na cor dos teus olhos.

.A Paz nasce quando o poeta canta sem medo

o desespero e a esperança.

Quando era criança

brincava com uma pomba próximo do mar.

Era verde o tempo.

Verdes os cabelos da aurora.

Uma montanha corria para mim,

alada como um rio...

Comia espigas de água

e cerejas com folhas de silêncio.

Era verde o tempo.

O tempo que mergulhava no meu corpo de pássaro

e nele desenhava curvas

como num campo de searas.

Amo a simplicidade das árvores

ou duma janela aberta.

E se falo no tempo em que ser criança

é ser o sol,

é porque sou um homem.

Um homem igual aos outros homens.

Um homem que ama a vida maternalmente.

Júlio Bessa Vintém

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