Os movimentos
iniciais dos nazis no terreno da economia nos anos vinte do século passado
ainda estão sujeitos a inúmeras controvérsias. Essa dificuldade tem sido
atribuída ao sucesso do regime de Hitler em encobrir os gastos com armamentos,
tendo chegado ao ponto de deixar de publicar dados sobre as despesas
governamentais. O atual discurso dos dirigentes do “Ocidente Global” sobre
gastos militares segue o mesmo método, substituindo a censura pelo emassamento
de dados de onde não é possível retirar informações fidedignas.
O papel do
grupo de personagens que no século passado dirigiram a passagem do nazismo de
uma ideologia a um regime totalitário e expansionista também tem sido mantido
na obscuridade para concentrar o mal na figura de Hitler. A passagem do nazismo
da teoria e da propaganda à prática foi obra de um grupo em que todos se
odiavam, mas em que todos competiam para desempenhar os principais papéis e,
sobre tudo enriquecer. Alfred Rosenberg, Himmler, Goring, Heydrich são alguns
nomes dos que promoveram a Alemanha de Hitler. Alfred Rosenberg , menos
conhecido, foi importante, por exemplo, na elaboração da ideia de que havia uma
conspiração judaica mundial por detrás da revolução comunista na União
Soviética. Nessa perspectiva, os eslavos eram uma raça inferior, a ser
escravizada pelos alemães, e a URSS era um projeto judeu para os liderar contra
a raça superior. Um discurso coincidente com o atualmente difundido pelos
grandes meios de manipulação.
A corte de
Trump e o programa MAGA é um regresso ao passado. A imagem que temos do nazismo
e dos nazis é de seres robotizados, de botas altas, bigode, braço estendido,
desumanizados, mas os nazis dos anos vinte e trinta do século passado eram
seres aparentemente tão inofensivos como os quase juvenis bebés Nestlé que as
fotografias de Elon Musk ou Mark Zuckerberger sugerem e os nazis da versão
anterior também já utilizavam a alta tecnologia para justificarem o seu poder.
Heydrich era um apaixonado pela aviação e um amante dos caças Messerschmitt, à
semelhança de Elon Musk com os satélites e os foguetões da Starlink.
O núcleo duro
do nazismo era constituído por personagens que se apresentavam como normais, em
ambientes familiares, e o seu êxito consistiu em terem escondido a paranoia que
os infetava com uma hábil propaganda, esta a cargo de Goebbells. O núcleo duro
dos neocons é apresentado como um conjunto de génios que dominam a Inteligência
Artificial e com ela vão impor o seu domínio aos povos inferiores.
Revivemos um
tempo de velhos truques adaptados aos meios atualmente disponíveis, mas a
natureza dos intérpretes não mudou. Adam Tooze, historiador inglês e professor
em História Económica Europeia Moderna na Universidade de Cambridge, no livro O Preço da Destruição (2006), um título premonitório, destaca que o marco divisório
entre a República de Weimar e o Terceiro Reich não foi a criação ou destruição
de empregos, mas a mobilização em torno do rearmamento. O que é semelhante à
separação entre o capitalismo antes e depois da queda do muro de Berlim e da
vitória do neoliberalismo da Escola de Chicago e do Não Há Alternativa (TINA).
As opiniões
públicas europeias estão a ser massacradas com duas ideias-martelo, uma, a
necessidade de gastar recursos em armamento, que ilude o desemprego e a
degradação do estado social provocadas pelas duas guerras lançadas pelos
Estados Unidos para manterem a sua hegemonia mundial, a da Ucrânia e a do Médio
Oriente; a outra, a da necessidade da Ordem, de um Estado Forte que defenda as
oligarquias.
Os grupos
neonazis em crescimento realizam neste momento o trabalho de sapa de
“identificar” o imigrante como o inimigo, atribuindo-lhe a autoria de toda a
sorte de crimes, considerando-o fator de insegurança, ou como alguém que rouba
o trabalho aos nativos e destrói a identidade cultural do povo de acolhimento.
O discurso dos vários “cavaleiros do Apocalipse”, de Trump a Ventura, de
Salvini a Farage é o mesmo, porque é o mesmo o espantalho do medo que agitam e
que esconde o medo das elites instaladas da perda do seu domínio sobre o
sistema político. O trabalho de propaganda do armamentismo como programa
político de salvação da nossa civilização, é uma tarefa considerada “limpa” e
está a cargo de políticos institucionais e dirigida pela NATO.
Quer os
pastores que dirigem os movimentos neonazis, ditos populistas, quer os
burocratas da NATO e da União Europeia, os institucionais, sabem que a
imigração não é a causa da crise económica e social que o “Ocidente Global”
vive, mas que é uma consequência das ações que este desenvolve e desenvolveu
para impor e manter o seu modelo social baseado na desigualdade e que os
imigrantes são meras peças de usar e deitar fora de importar ou rejeitar
consoante o “mercado”.
A algazarra
criada no “Ocidente Global” contra a imigração, a insegurança e a corrupção,
que na versão portuguesa está a cargo do Chega de Ventura, é um dos meios de
manipulação utilizados pelos neocons americanos
para evitarem a perda da supremacia planetária que ganharam com o final da
Segunda Guerra. As elites ocidentais decidiram que o perigo deveria ser
enfrentado com o reforço dos aparelhos dos estados sobre os cidadãos, com a
instauração de estados policiais e tendencialmente totalitários, ditos
iliberais, com o isolamento e o fechamento ao exterior e com o desencadeamento
de conflitos armados em zonas estratégicas, a Eurásia, com a guerra na Ucrânia,
o Médio Oriente, através de Israel, as regiões de África produtoras de minerais
raros, necessários para as novas tecnologias. O Chega de Ventura é o agente
deste programa para Portugal.
O nazismo não
foi um produto alemão saído de uma linha de montagem como um Mercedes ou uma
salsicha de Frankfurt, o nazismo é uma velhíssima ideologia baseada na
intolerância relativamente ao outro, ao diferente, é uma ideologia racista
assente no conceito da superioridade. A cumplicidade dos dirigentes europeus
com o regime de Israel e o apoio dos oligarcas dos Estados Unidos ao genocídio
levado a cabo na Palestina por Israel revela quanto o nazismo está entranhado
na cultura do Ocidente, nas suas elites e oligarquias.
Os que não
toleram os outros são os cobardes que não confiam em si. Os movimentos nazis,
como todos os seus antecessores fundados na intolerância, representam o medo.
As fogueiras da Inquisição e as paredes de fuzilamento, os guetos, os discursos
ameaçadores são sinais políticos que devem alertar os democratas contra os
perigos que ameaçam a humanidade.
A alternativa
a um grande confronto seria eliminar ou minimizar as causas das diferenças, as
desigualdades que geram os movimentos migratórios, a verdadeira corrupção, as
dos offshore, das
parcerias público-privadas, as da promiscuidade entre negócios públicos e
lucros privados, mas isso implicaria diminuir os lucros proporcionados pelas
guerras e partilhar o poder, o oposto de uma estratégia assente na hegemonia
planetária de uma minoria de bezerros de oiro.
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