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quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Cofinados – I:

 «It is difficult to get a man to understand something when his salary depends upon his not understanding it.»

 Upton Sinclair

A 24 de Dezembro, Fernanda Câncio informou numa rede social ter entrado na sua conta o valor de uma indemnização que o esgoto a céu aberto e cinco jornalistas tinham sido condenados a pagar-lhe por actos de difamação e calúnia. No dia seguinte, noutra rede social, repetiu a divulgação. Tratando-se desta jornalista, com a sua notoriedade, tal implica que todos os principais jornalistas e políticos em Portugal — dos patrões e editores da “imprensa de referência” aos dirigentes dos partidos com representação parlamentar e membros do Governo — tivessem nesses dias recebido a informação relativa ao acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa em causa, o qual confirmou a decisão da 1ª Instância. E tratando-se de atentados contra o seu bom nome e honra por mentiras ligadas à Operação Marquês, crucialmente por serem mentiras que inventavam diálogos atribuídos a supostas conversas privadas com Sócrates captadas pelas autoridades, esta confirmação da Relação de Lisboa tem, ou permite tirar, incontornáveis ilações e ponderosas lições para a comunidade jornalística e política. Donde, os ingénuos ficaram à espera que se publicitasse e discutisse com urgência e profundidade na comunicação social as questões suscitadas pela condenação. Esta é a segunda indemnização (!) que os mesmos pulhas lhe pagam por causa da perseguição que fizeram com o objectivo de destruir a sua reputação e prejudicá-la profissional e socialmente com o maior dano possível. Estamos a 7 de Janeiro. Que aconteceu, entretanto, a respeito?

Como qualquer um pode confirmar em segundos por busca no intervalo de tempo, quase nada é a resposta. Saíram duas notícias, duas. Primeiro no JN, dia 27, depois no DN, a 28. Ambas com uma enigmática característica: existem na edição em papel, nunca existiram na edição digital desses jornais. Portanto, não estão acessíveis para memória digital futura, não podem gerar comentários nem partilhas a partir desses órgãos. Porquê? Qual o critério? Não sei, mas sei que o alcance das mesmas ao ficarem presas no papel é o mais baixo possível, é residual, é absolutamente irrelevante.

No mundo da opinião, e que tenha apanhado, apenas Luís Aguiar-Conraria falou no assunto. Esse texto, bem-intencionado, meritório, apresenta também a sua curiosidade. O autor começa por declarar ser amigo de Fernanda Câncio, o que tem como primeira impressão aumentar a sua autoridade moral por via da honestidade exibida antes dos argumentos. Todavia, numa leitura final, após a digressão que em parte é acerca de si próprio, podemos questionar se ele teria tido a mesma atitude de defesa isolada de um alvo de assassinato de carácter da Cofina calhando não existir esse laço relacional e afectivo. Especialmente, quando a vítima foi apanhada no vendaval de calúnias ligadas à Operação Marquês e a Sócrates. Os 10 euros que tenho no bolso vão para a aposta na negativa.

A duplamente indemnizada, há meses, já chicoteou o silêncio cínico, cobarde, moral e politicamente cúmplice dos seus colegas de profissão e respectivos chefes e patrões, a que se junta o prolixo comentariado: Media livre de qualquer jornalismo. Acontece que, repetindo-se o fenómeno, tal sentimento de desilusão, desgosto e nojo deve ser estendido à sociedade inteira. Voltarei a esta miséria.

 por Valupi

Do blogue Aspirina B

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