A vida de José mudara de um momento para outro. A
moeda, que o mendigo lhe oferecera, e que ele guardava religiosamente, parecia
conter o poder da sorte.
Por Ricardo Jorge Neto
José era jovem com um bom coração! Tinha sempre algo a oferecer, nem que fosse um sorriso. Mas José sentia que o mundo o tentava contrariar a toda a hora, e eram inúmeros os azares que lhe iam surgindo pela frente, como uma espécie de dominó, onde as peças se vão derrubando umas às outras.
Aquele mês de dezembro estava a correr particularmente mal.Quando o Natal se aproximava, José foi chamado aos serviços administrativos, informaram - no que o seu contrato não iria ser renovado e entregaram-lhe um envelope com o pagamento final.
Ao sair do seu antigo local de trabalho, suspirou e
começou a caminhar cabisbaixo.
Ao dobrar a esquina, encontrou um mendigo que lhe
pediu ajuda. José olhou para o homem, abriu o envelope com o dinheiro, mas
voltou a fechá-lo e entregou-lho, dizendo:
- É melhor ficar com tudo, muito possivelmente ainda
acabo assaltado na próxima rua…
O homem ficou sem reacção, por momentos, mas depois
agarrou a mão de José, colocou-lhe uma moeda na mão e sorriu!
Ao entrar em casa, a sua mãe aguardava-o muito feliz.
José tinha à sua espera um homem que o queria contratar de imediato… A vida de
José mudara de um momento para outro. A moeda, que o mendigo lhe oferecera, e
que ele guardava religiosamente, parecia conter o poder da sorte.
Com a moeda, José tornou-se um homem de sucesso,
conheceu a sua lindíssima esposa e tornou-se alguém respeitado e admirado por
todos.
Mas José nunca esquecera aquele mendigo e, para o
voltar a encontrar, criou um centro de ajuda na cidade.
Todos os dias no final da tarde, cumpria o mesmo
ritual:visitava o centro, na esperança de reencontrar aquele mendigo, e ia
tomar um café junto daquela esquina, onde a sua vida mudara.
Um dia, num outro Natal, José acordou e não encontrou
a sua moeda.
Ficou nervoso e temeu que tudo o que construíra se
desmoronasse, como um castelo de cartas.
Mas o dia correu normalmente e nada de errado
aconteceu. Quando finalmente o seu dia estava a terminar, naquele café da
esquina, ao pagar, reparou que estava a dar a moeda ao rapaz do balcão…
hesitou, olhou para o jovem e disse:
- Fique com essa moeda para si, vai mudar-te a vida,
se acreditares nela!
Nisto, sentou-se ao seu lado um homem que começou a
falar com ele:
- Sabe, você não me conhece, mas eu conheço-o! E
conheço, principalmente, a sua esposa! Eu não deveria estar aqui, eu
prometi-lhe que haveria de ser ela a falar consigo e não eu! Mas o tempo passa,
e a situação não se pode arrastar mais!
José começou a suar e a ficar mal disposto, enquanto
olhava para todo o lado, na tentativa de encontrar o jovem, a quem deu a moeda.
Continuou o estranho homem:
- Não fique assim, acalme-se! Eu e a sua esposa temos
mantido uma relação há muito tempo. Ela apenas ainda não conseguiu falar
consigo, porque você é homem bom.
- Espere, não estou a entender o que me quer dizer,
ajude-me primeiro a encontrar o jovem que me atendeu! Para onde ele foi? - o
nervosismo de José era evidente, parecia que o seu mundo começava a
colapsar…
- Esqueça isto, e oiça-me com atenção! Eu e a Sofia
vamos seguir o nosso caminho… «
- Sofia? A minha esposa, não se chama…
De repente, nas suas costas surge o mendigo, que lhe
diz:
- José! Finalmente reencontro-o! Quero que saiba que o
segredo da sua vida nunca esteve nesta moeda. Apenas recebeu de volta, o que
sempre ofereceu!
Sem comentários:
Enviar um comentário