Tudo estava encaminhado para correr mal. A CML permitira que a marcha do CH, marcada fora de prazo, acabasse no local reservado pela Vida Justa. Nas redes, a PSP publicou um cartaz com 2 policias com capacetes, cara tapada e a frase "Pátria e Ordem", que a extrema-direita partilhou. A PSP entrou, como todas as corporações em momentos como este, em autodefesa. Em democracia, todas as instituições são escrutinadas por outras porque não confiamos totalmente em nenhuma. São feitas de humanos e os que dirigem a PSP lançaram 2 jovens com pouco mais de 20 anos para um cenário inapropriado. O diretor adjunto disse que tinham treino básico e, ao contrário de todas as profissões, a experiência não conta. Divulgaram versões de que não estavam certos e demoraram dias a desmentir mentiras. O jovem polícia é, antes de tudo, uma vítima das cúpulas da PSP. E elas não deixarão de se proteger. A Vista Justa impediu o encontro do CH com aquelas a que chamam "rascaria". O facto de milhares jovens das periferias terem perdido para 200 racistas a prioridade legal de ir para frente da AR é uma metáfora. Graças à Vida Justa, não houve problemas. E isto fez mais pela paz, pela “ordem” e até pela “pátria” do que a competição de testosterona entre políticos. Porque a pedagogia da democracia é autoministrada. Até sábado, os que pouco ligaram à vigília no Zambujal, antes de qualquer tumulto, passaram dias atrás de caixotes de lixo que ardessem. Até no dia do funeral, as televisões não resistiram a enquadrar diretos com restos dos tumultos. É uma adição. Foi apenas um sábado e uma manifestação, mas foi um momento histórico para quem ainda luta pelo direito a não correr risco de ser abatido por um pequeno erro. A lei, como a cidade é para todos. Para Odair e o polícia, para Tiago e quem o feriu, para os que promoveram os tumultos nas redes e quem instigou ao homicídio de cidadãos pela polícia.
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Daniel Oliveira
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