Desde que entrei para a tropa, aos dezessete anos, que tenho uma má relação com as cornetas. A corneta emite um som que me é desagradável.
Nos antigos regulamentos militares, para a especialidade de corneteiro deviam ser escolhidos algarvios, vagabundos e outra gente de mau porte. O corneteiro de facto é sempre um mau músico que se esforça para soprar o seu instrumento e transmitir as ordens do seu chefe.
As televisões são hoje o lugar de exercício dos corneteiros - dos cornetas e ganharam um estatuto de quase músicos, sendo certo que são uns artistas. Marcelo Rebelo de Sousa será o caso de maior sucesso e alcançou um estatuto de flautista que lhe permitiu chegar onde chegou.
Hoje há três cornetas principais, com direito a toque sem contraditório e que procuram transmitir as ordens à formatura que são as audiências, o maozinhas Marques Mendes, o elegante Paulo Portas e o Nuno Rogeiro, a versão local do Bernardo Henri Levy.
Estas três cornetas trazem as perguntas que entregam às partenaires e debitam o seu solo. Dão umas fífias, mas fica o som roufenho. Estes cornetas consideram normal fazerem solos para o pagode e que este os tome por músicos sérios.
Carlos Matos Gomes
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