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terça-feira, 3 de setembro de 2024

Uma certa pedofilia eleitoral:

Este governo pendurado por arames luta como pode para se manter de pé. É o seu papel e está no seu direito. Sendo o seu papel, podia recorrer a truques novos. Mas não. Utiliza velhas taras. E o extraordinário é que, de tão entontecida, a sociedade ziguezagueie e tome estes truques de velhos engatatões decadentes como propostas de negócio sério.
Quando um governo anda aos Z o mais certo é andar ao engate de jovens. A pedofilia deste tipo de governos tem história. Assim de repente lembro-me dos jovens agricultores, que foram engatados com os jipes a que foi dado o cognome de IFADAP, dos jovens empresários de elevado potencial, os JEEP, o Crédito Jovem, a Habitação Jovem, e agora chegámos ao IRS jovem! IRS, segundo a definição do Ministério das Finanças, é uma sigla que significa Imposto Sobre os Rendimentos das Pessoas Singulares. Para este governo a Pessoa Singular com plenos direitos e deveres só existe depois dos 36 anos. Jesus Cristo que morreu aos 32 por esta ordem de Montenegro e do seu ensimesmado ministro das Finanças estaria ao abrigo do IRS jovem.
Segundo percebi, e sou um especialista em impostos, como a maioria dos portugueses que não têm um conselheiro gabarito do doutor Ventura, o atual governo pretende engatar jovens até aos 36 anos com uma tabela de favor sobre os seus rendimentos e apresenta esta oferta com o sorriso de chico esperto à esquina de uma rua de trottoir que o doutor Montenegro exibe a imitar algumas capas da Bomba H, ou do Cara Alegre, revistas do grande Vilhena.
Os 36 anos são um dado sem qualquer base. 36 anos porquê? No tempo da tração animal a definição da idade dos animais a engatar era feita pela observação dos dentes, presumindo-se que os mais novos eram mais aptos para o trabalho. À falta de uma tabela de IRS construída tendo por base a curvatura da dentadura e o número de dentes, a nova justificação para marca definidora de benefícios fiscais é a de que até aos 36 anos a nova geração de portugueses precisa de carinho.
A lógica da proposta do IRS jovem do governo conduz a conclusões como as seguintes: um comandante de linha aérea, que aufere mais de 10 mil euros mensais, ou um cirurgião que opera entre publico e privado, um CEO de uma multinacional, um futebolista ou atleta profissional, um consultor financeiro de um banco de investimentos, desde que tenham menos de 36 anos têm direito a uma tabela bonificada em igualdade de condições com um mestre de uma pequena embarcação de pesca, um camionista de TIR, um capitão piloto de um helicóptero, um professor, um operador de grua, um faroleiro, um pasteleiro.
A título de exemplo, Bill Gates fundou a Microsoft com 19 anos, pelo que, segundo a proposta de Montenegro, teria direito a dezassete anos de IRS jovem para poder iniciar a sua vida!
Como para este governo, os 36 anos são a idade da razão, seria então lógico que a maioridade fosse aos 36 anos. Também a idade do primeiro voto. Da saída de casa. Da responsabilidade civil por acidentes. A idade de tirar a carta de condução, de poder beber álcool, de responder por crimes. A idade em que os pais diriam: então filho estás um homem, ou, filha estás uma mulher. Toma lá as chaves de casa!
O mais extraordinário nesta extraordinária proposta é que a sociedade não se desmonta a rir e pelas TVs passam enxames de louva-a-deus a discutir o mérito desta nova burla de engate. Também tenho apreciado a aparvalhada aceitação dos meninos e das meninas de 36 anos que frequentam as universidades jovens dos partidos. Muito concordantes.

O próximo passo, será, presumo, o de instaurar o IRS jovem para os frequentadores dos Lares, para aquisição de cadeiras de rodas, andarilhos e algálias, objetos típicos da juventude.

Carlos Matos Gomes 

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