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terça-feira, 3 de setembro de 2024

Senhores do Mundo. E a democracia é o governo do povo, é?

Vivemos num regime democrático? Temos liberdade? Recebo diariamente uma resenha dos assuntos publicados no jornal Expresso. Chama-se Expresso Curto. O sumário de hoje é de Miguel Prado e diz-nos que somos - os cidadãos do Ocidente Global e da alta tecnologia - uns frangos de aviário alimentados com o que os donos do aviário entendem que devemos comer e nada mais. Um dos donos do aviário chama-se Elon Musk e o Expresso Curto informa-nos da democracia Muskiana em que vivemos:
Elon Musk, a mais abastada criatura do planeta, prossegue a incessante busca do ponto X, pelo prazer do poder que emana do controlo de uma influente rede social.
Musk é uma personagem fascinante, figura amada por uns e odiada por outros, herói e vilão. Há um ano, quando foi publicada em Portugal uma biografia sua, da autoria de Walter Isaacson, traçámos aqui no Expresso o seu perfil.
Não é despropositada (é fundamental) a atenção que os media vão dando a Elon Musk. É o homem mais rico do mundo (tem, segundo a Forbes, uma fortuna de 244 mil milhões de dólares, mais de 220 mil milhões de euros, quase 83% do Produto Interno Bruto português). É o dono de uma importante rede social (o X, com mais de 600 milhões de utilizadores, está em 12º lugar entre as maiores plataformas digitais do mundo, numa lista liderada pelo Facebook, Youtube e Instagram). Controla a empresa de foguetões SpaceX e a rede de satélites Starlink (as que fornecem informações para a guerra na Ucrània e para os massacres israelitas na Palestina, por exemplo) . E é também acionista de uma das mais importantes marcas de carros elétricos do mundo, a Tesla, o que lhe confere um papel relevante no andamento da descarbonização global. (Náo se pode falar nas redes sociais nem dos carros que ardem, nem dos sistemas eletrónicos descontrolados, nem do destino das baterias).
No ano passado a Tesla assegurou quase 20% do mercado mundial de carros elétricos, batendo a chinesa BYD (17%) e deixando bem longe as marcas europeias. A Volkswagen teve uma quota inferior a 5% (e em Portugal nas vendas de carros elétricos nos primeiros sete meses a marca não estava sequer no Top 5, liderado pela Tesla).
A dificuldade em concorrer no mercado global da mobilidade elétrica poderá ter custos pesados para a companhia alemã, que pretende até 2026 reduzir as suas despesas em 10 mil milhões de euros, o que poderá incluir um fecho de fábricas na Alemanha (algo inédito nos seus 87 anos de vida). (Os 3 maiores construtores alemães, VW, Mercedes e Audi estão e deslocalizar as suas fábircas para a China e para os estados Unidos - o chanceler Sholz ficou muito admirado com as votações nos partidos nacionalistas nas ultima eleições. Macron também está em transe em França))
Elon Musk é hoje uma das mais controversas e poderosas personalidades do mundo. No domingo uma das empresas da sua constelação de negócios, a Starlink, recusou cumprir as ordens do juiz Alexandre de Moraes para suspender os seus serviços no Brasil, onde tem mais de 215 mil contas ativas. Um novo episódio na novela que teve um capítulo marcante na sexta-feira, com aquele magistrado a ordenar a suspensão da rede social X, depois de Musk ter recusado remover perfis ligados à extrema-direita e de ter fechado os escritórios no Brasil, para proteger os seus funcionários, que disse terem sido ameaçados de prisão.
Esta segunda-feira, Musk aproveitou a apreensão do avião do presidente da Venezuela pelos Estados Unidos (na Republica Dominicana) para comentar a polémica em torno do X no Brasil. “A menos que o governo brasileiro devolva a propriedade ilegalmente apreendida do X e da SpaceX, procuraremos uma recíproca apreensão dos ativos do governo também. Espero que Lula goste de voar em aviões comerciais”, escreveu o empresário. (Em claro Musk arroga-se o direito de mandar às malvas o sistema político brasileiro e a soberania dos brasileiros, que ainda são bastantes, têm partidos, hino, eleitos, exército e uma democracia formal)
A suspensão da rede social de Musk no Brasil e os termos controversos da decisão do juiz Alexandre de Morais merecem uma reflexão sobre como conciliar o cumprimento da lei nas mais diversas geografias e a liberdade de expressão nas plataformas digitais. Um artigo de janeiro no Guardian, de Trevor Timm (da Freedom of the Press Foundation) denunciava a hipocrisia de Musk quando se auto-proclamou “um absolutista da liberdade de expressão”. E esta segunda-feira um outro artigo, assinado por Gideon Rachman, no Financial Times, sublinhava que “as suas intervenções imprevisíveis, combinadas com um imenso poder tecnológico e financeiro, tornam-o um míssil geopolítico sem direção, cujos caprichos podem afetar os assuntos internacionais”.
No que toca ao poder de Musk, a procissão ainda vai no adro. Avancemos, então, para mais temas que estão a marcar a atualidade.

Quando leio por aí: Nós, os do Ocidente somos superiores, temos liberdade, podemos falar, eleger.... murmuro, não vá o Musk, o Bill Gates, o Zuckberg desatarem a rir-se e mandarem-me uma mensagem: os seus pensamentos estáo fora dos padrões da nossa comunidade. Sabemos onde vives e temos meio de te fazer desaparecer.

Carlos Matos Gomes 

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