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terça-feira, 17 de setembro de 2024

Deixem a guerra para quem sabe de guerra:

 (Por Estátua de Sal, 16/09/2024)


Nunca vi o espaço mediático tão infestado de “especialistas” como hoje. São um enxame de pregadores que dissertam sobre tudo e um par de botas, como se de cátedra perorassem.

No entanto, existem três categorias diferentes de opinantes:

Há os mais novos que, por terem feito umas cadeiras nos cursos de lavagem cerebral de Relações Internacionais, se consideram já experts em guerra e em geopolítica – João Jonet, Maria Castello Branco, a mais veterana Diana Soller, e a espalha brasas Ferro Gouveia.

Há os militares propagandistas da cartilha da NATO, deturpadores dos factos e do andamento da guerra, João Fonseca Ribeiro, Marco Serronha e o inenarrável Isidro Morais Pereira.

E, por último, há três generais que têm sido acusados de posições pró-russas, apesar da maior parte dos seus comentários serem feitos com base na doutrina militar e geoestratégica, Agostinho Costa, Raúl Cunha e Carlos Branco (ver artigo e a posição dos visados aqui).

Já nem falo da dupla de patetas Milhazes e Rogeiro, sendo que este último, apesar dos memorandos que deve receber dos serviços de informações ocidentais e que o levam a considerar-se um perito em guerras, teria muito que aprender com o texto que abaixo publicamos do Major-General Raúl Cunha, bem como com a intervenção na CNN do general Agostinho Costa.

O meu conselho para os comentadeiros de serviço é este: dediquem-se à pesca ou joguem ao berlinde e deixem a guerra para quem sabe de guerra, porque a estudou, porque a fez e porque por lá arriscou a vida, e que por isso não a deseja nem a proclama, pretendendo evitá-la a todo o custo.


Os porta-aviões na atualidade

(Major-General Raúl Cunha, in Facebook, 15/09/2024)

Um dos ensinamentos que podemos agora considerar (veja-se que uma força naval americana teve que se afastar de uma zona costeira por ação dos houthis) é que os dias em que os porta-aviões podiam estacionar a cento e sessenta quilómetros da costa de um país e passar meses a bombardeá-lo até o apagar do mapa, acabaram há algum tempo. As munições de precisão guiadas criaram uma nova lógica no campo de batalha: se um alvo pode ser detetado, pode ser destruído. E, com o aparecimento dos mísseis hipersónicos, essa possibilidade ficou ainda mais evidente.

Isto fez com que os porta-aviões estejam a ficar cada vez mais vulneráveis. Podem ser detetados ao longe pelos poderosos radares de superfície, por radares das aeronaves de pesquisa, seguimento e aviso, ou pelas emissões eletrónicas dos seus próprios radares ou dos das suas escoltas. Ainda poderão ter utilidade para os combates no mar alto ou, dada a possibilidade de poderem operar em qualquer parte do mundo, aumentar assim as distâncias das estruturas de defesa e possibilitando influenciar e apoiar a manobra de forças terrestres longe do seu território de origem. Mas, já não será tanto assim em missões onde sejam o único vector de ataque a objectivos terrestres.

Os porta-aviões foram os navios militares dominantes a partir da segunda metade do século vinte, mas agora, no século vinte e um, irão começar a ser utilizados cada vez mais como navios de apoio a uma manobra mais alargada, enquanto que os outros navios de superfície e sobretudo os submarinos com a valência de lança-mísseis passarão a ser os principais instrumentos com capacidade para decidir os combates navais, podendo também actuar sobre objectivos terrestres de importância estratégica.

Na minha opinião, esta será talvez uma das principais razões porque os EUA têm evidenciado alguma relutância em confrontar diretamente a Rússia, a qual, como é sabido, possui uma vasta frota de submarinos equipados com os mais recentes mísseis hipersónicos, inclusive com ogivas nucleares.


“Esta aventura de Kursk é recomendação de uns majores que acabaram o curso e andaram a ler A Guerra dos Tronos”

(Grande máxima numa assertiva intervenção do major-general Agostinho Costa, na CNN, cujo vídeo pode ser visto aqui).

Do blogue Estátua de Sal

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