Não falo das duas cadeiras que a oposição dizia faltarem-lhe, a elétrica e a que lhe devia ter rachado a cabeça, antes de mandar assassinar adversários políticos e dirigentes dos movimentos de libertação das colónias, que os nostálgicos ainda referem como ‘o nosso ultramar infelizmente perdido’.
O caruncho poupou ao calista o tratamento dos pés do ditador porque, há muito, cuidava dos pés da cadeira com a eficiência da sua condição e a devoção de um patriota, e assim continuou enquanto Hilário e D. Maria lhe ergueram o corpo e a cabeça cuja dureza não fez mossa no chão. E nunca mais deitou as unhas de fora.
O caruncho foi o herói anónimo que passou as malhas da Pide, sem suspeitas da Legião Portuguesa ou a denúncia de qualquer esbirro, e franqueou as portas do Forte de Santo António para ser conduzido dentro da madeira para o terraço onde o seu labor de anos terminou em apoteose quando a cadeira ruiu com o ditador dentro.
É por isso que ainda hoje, 56 anos depois, presto homenagem ao caruncho da nossa esperança.
Carlos Esperança
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