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segunda-feira, 1 de julho de 2024

E eu pergunto: qual o objectivo, Mariana?

Se a Mariana Mortágua pensa que massacrar actualmente os nossos antepassados e nós próprios (suponho que ela também)  com as alusões ao tráfico transatlântico de escravos negros de há uns séculos leva a que, neste momento, se elimine o racismo em Portugal, está redondamente enganada. O resultado pode ser o contrário, tal o absurdo da culpabilização. Os portugueses não atravessaram os mares com o objectivo primeiro de ir torturar pessoas livres e de outras cores. Aliás, passaram-se séculos até se aventurarem pelo interior de África. Eram os próprios africanos que utilizavam pessoas já escravizadas como moeda de troca comercial. O erro não pode estar só nuns (a menos que se considere superior o estado de desenvolvimento dos europeus à época – e os europeus mais responsáveis, e inferior o dos africanos, o que é sempre discutível, dependendo da perspectiva, e nunca jamais admitido pelos movimentos de extrema-esquerda).

Nós também não somos os nossos antepassados. E as pessoas de cor de que se rodeia a Mariana para proferir estas acusações também não vão ganhar mais respeito com estas declarações, pois será legítimo perguntar-lhes por que razão elas ou os seus pais vieram então viver para o reino dos opressores e por que razão quem ficou em África e escapou ao tráfico não só não deixou de ser escravo à mão de negros como, não sendo escravo, não ficou melhor do que quem foi levado para o Brasil nem deixou de morrer por maus tratos, tendo ficado. Tudo isto e muito mais inconveniências que costuma retorquir quem gosta de prolongar estas discussões improdutivas. Foi um episódio negro da história europeia que felizmente terminou. Mas não em todo o mundo, facto de que a Mariana não fala. Na Arábia Saudita a escravatura ainda era legal em 1962 e consta que há países onde ainda se pratica, nomeadamente a Mauritânia, a Índia, a China, a Rússia, etc.

Se a Mariana pensa que os portugueses de há uns séculos não fizeram absolutamente nada de valoroso de que nós, os seus descendentes, nos devamos orgulhar e que tudo se resume à brutalidade do tráfico transatlântico ou à exploração da mão de obra negra nas colónias por racismo, só revela desrespeito pela memória, a ambição, os sonhos e o sacrifício de tantos, desdém pela imagem que o resto do mundo tem de nós, um profundo desconhecimento da história dos europeus, ou mais exactamente de todos os povos, todos eles com pessoas escravizadas numa altura ou noutra da sua história, e, mais grave, desejo de provocar reacções perigosas dos candidatos a autocratas que pululam um pouco por todo o mundo nos tempos que correm, esses sim racistas, reacções eventualmente percepcionadas como justificadas e compreendidas dado o exagero e o despropósito da culpabilização.

Se pensa que os portugueses foram os “fundadores” do racismo é ainda mais ignorante e, dada a vergonha que tem de ser descendente de tão maléfico povo, talvez fosse mais coerente mudar de nacionalidade de uma vez por todas e tornar-se palestiniana ou iraniana, correndo embora o risco de ser apedrejada por imoralidade.

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Nota: Se este meu post puder ser atribuído a alguém do Chega, fiquem a saber que eu penso o seguinte: muito do acolhimento que movimentos nacionalistas e xenófobos como o Chega lamentavelmente obtêm na sociedade deve-se ao completo exagero e ao radicalismo dos movimentos esquerdistas em matéria de revisão da História, de desprezo pelo passado e de culpabilização extemporânea e absurda do “homem branco”. Continuem assim que eles agradecem.

 POR PENÉLOPE

Do blogue Aspirina B

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