Na sua história milenária, a Igreja Católica fez duas “trouvailles” gigantescas e notoriamente essenciais: a confissão e o celibato dos religiosos…
Na sua longa história, a Santa Madre Igreja Católica Romana fez nomeadamente duas descobertas formidáveis de enorme importância: a confissão e o celibato dos religiosos.
Graças à confissão, os padres passavam a controlar a vida mais íntima dos indivíduos, nomeadamente no que dizia respeito à sexualidade e às “encartadas” de toda a ordem nesta e noutras matérias.
Para que confessassem tudo e não escondessem nada aos padres (roubos, malversações, conspirações, invejas…), ameaçava-se com um horrível inferno e prometia-se uma limpeza da alma depois de umas avé-marias, uns padres-nossos e por vezes algo mais do que isso.
Consequências da confissão: os pecadores, depois do ato de contrição, poderiam voltar de novo a pecar porque seriam libertados do pecado na confissão seguinte. O que explica a grande diferença da conceção da ética nos países de religião católica e, por exemplo, nos de religião protestante.
Por outro lado, a Igreja Católica passava a controlar toda a vida em sociedade e mesmo, durante longos séculos, a vida política dos Estados europeus: era o papa que reconhecia ou não tal Estado ou tal monarca, enquanto que os bispos e demais cardeais eram muitas vezes membros das famílias reais.
A um nível mais comezinho, os confessores passavam a saber, ao contrário dos demais cidadãos, quem eram os/as pecadores/as ou aqueles/as mais frágeis com quem poderiam tentar aventuras clandestinas de caráter sexual. Atribuindo-lhes caráter de liturgia religiosa, se necessário fosse…
Mas a Igreja Católica fez também outra descoberta: impor o celibato aos clérigos, porque só assim poderia impedir que eles transmitissem os bens materiais, as numerosas propriedades das ordens religiosas, aos seus filhos. De modo a que, ao contrário, fossem mantidos como propriedade da Igreja. Fosse embora preciso fechar os olhos perante os numerosos casos de padres, bispos e até papas que viviam com “irmãs”, “primas”, “tias” e demais “governantas” de que tinham filhos perfeitamente atestados pela História.
Só que, o que era possível praticar e esconder em tempos de informação restrita (porque o pluralismo dos média era altamente limitado até, digamos, aos anos 1970) e de regimes ditatoriais muitas vezes apoiados pela hierarquia católica (como o salazarismo em Portugal ou o franquismo em Espanha), já não é possível hoje em dia, graças à democracia, à liberdade de informação, ao pluralismo dos média e até à explosão das chamadas “redes sociais”.
Agora, já não é só “o rei que vai nu”, são todos os padres, bispos e papas cuja contradição entre os discursos e as práticas é exposta aos cidadãos. Cidadãos que só não veem se não quiserem ou não puderem ver: a máquina de poder e de corrupção que, globalmente, sempre foi a Igreja Católica, em nome de um deus desconhecido…
E não é por acaso que há cada vez menos batizados, menos casamentos, menos funerais e menos frequentação de atos religiosos da Igreja Católica por toda esta nossa Europa…
J.-M. Nobre-Correia
Do blogue Notas de Circunstância
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