Coube a este último pronunciar-se sobre o livro “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, do «inveterado ateu» José Saramago, que concorria a um prémio literário. Disse o pio, que Deus abandonaria nas trapalhadas da Universidade Moderna, que «A obra atacou princípios que têm a ver com o património religioso dos portugueses. Longe de os unir, dividiu-os» e, com tão clemente argumentação, vetou o livro que concorria a um prémio europeu, em nome do Governo presidido pelo devoto Aníbal Cavaco Silva.
Quando Lara vetou “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, o piedoso censor de Saramago não tinha lido uma só obra do escritor e, na Cultura, tinha apenas, como currículo, uma cruz de 70 metros, Cruz do Amor, erguida numa herdade alentejana, cruz luminosa, em plástico, um amuleto gigante promovido pelo Opus Dei.
Cavaco nunca mais esqueceu a devoção do seu ex-ajudante de ministro e certamente foi sensível à carreira do filho deste, um promissor gestor a quem o pai ofereceu o lugar de administrador de uma empresa pública, há empregos que alguns pais podem oferecer, e preferiu tornar-se padre do Opus Dei e especialista em exorcismos.
Foi este sólido talento da fé, chamuscado na Universidade Moderna, censor Sousa Lara, que Cavaco condecorou esta quinta-feira com a Ordem do Infante D. Henrique.
Não se sabe se foi o ódio a Saramago ou o amor ao Opus Dei que levou a venera a tal peito, por tais mãos.
19 de fevereiro de 2016
Apostila – Sousa Lara, hoje militante do partido fascista Chega, viria a ser promotor de Passos Coelho a Catedrático convidado. 20-02-2023.
Carlos Esperança
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