Marta Temido não tinha condições para continuar a ser ministra da Saúde.
Foi um erro político de António Costa quando a escolheu para continuar à frente do Ministério.
O primeiro-ministro decidiu assim pela mesma razão que o deveria ter levado a não a manter.
Depois do combate contra um vírus que mobilizou, como nunca antes, o Serviço Nacional de Saúde.
Depois de os médicos e enfermeiros, e as respetivas ordens profissionais, terem suspendido as suas reivindicações em nome da defesa do essencial, Temido seria sempre um obstáculo inultrapassável a qualquer reforma.
Após uma guerra, qualquer que ela seja, ficam feridas que se pagam caro quando chega a paz. Marta Temido ficará para a história como uma das figuras maiores da excecional resposta ao vírus. Foi ela a pedir todos os sacrifícios, todo sangue e todas as lágrimas. Estava na cara que quando o assunto deixasse de ser assunto mais ninguém a conseguiria ouvir.
É injusto.
Mas é humano.
Poucos são os que aguentam, como se nada fosse, depois de protagonizarem um acontecimento tão marcante como este foi.
António Costa deveria ter-lhe dado um outro qualquer lugar. Teria sido justo.
2.
Posto isto, Marta Temido merece a nossa consideração. E o nosso agradecimento.
Nos dois anos de inferno esteve sempre na primeira linha.
Quando faltavam ventiladores ela esteve do lado da solução.
Quando se começaram a somar ameaças de catástrofe ela ofereceu-nos o seu melhor.
Quando em janeiro de 2021 as mortes atingiram o seu ponto mais alto e tanta gente começou a soçobrar, manteve-se no seu posto, deu a cara, mostrou coragem e firmeza.
Fez o que lhe competia, dirão alguns.
Muito bem, mas fez.
E não era fácil não deixar a coragem evaporar-se, não era difícil deixar-se derrotar pelo cansaço e pelas derrotas, exasperar-se com as diferentes opiniões, com as dúvidas, com o mundo a desmoronar-se, com a pressão da opinião pública e das televisões.
3.
Marta Temido saiu.
Deveria ter sido poupada a estes meses - hoje seria uma heroína.
É sempre o que é.
E não o que poderia ter sido.
É a vida nas suas inapeláveis contradições e paradoxos.
4.
Há quem esteja interessado na derrota do SNS. Há muito dinheiro em jogo e Marta Temido era o alvo a abater por muita gente focada mais nos seus bolsos do que no interesse comum.
É bom que não sejamos totalmente ingénuos.
Mas é vital também que a reforma se faça.
Um país não pode ver grávidas a morrer em ambulâncias a caminho de maternidades sem médicos ou camas.
Um país não pode deixar morrer o futuro.
Que o próximo ministro ou ministra tenha a capacidade de encontrar soluções e tenha a força política e a frescura para ir à guerra com quem merece perder.
E que Marta Temido possa finalmente descansar.
Luís Osório
Na TSF
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