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quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

O entusiasta rasca:

Nada de novo debaixo do Sol. Esta campanha eleitoral repete anteriores e traz processos e figuras conhecidas de há séculos.
Os figurões são conhecidos e os resultados também.
Em épocas de crise surgem inevitavelmente, como as carraças no verão e as lesmas no inverno, uns figurões com promessas de salvação. Os gregos (fonte da nossa civilização) designaram estes figurões por «entusiastas» que correspondia a «possuídos do demónio». A palavra ganhou também o significado de fanático, de extremista.
Mais perto de nós, nos séculos XVI e XVII, o «entusiasta» político ou religioso passou a ser aquele/a que realiza «avivamentos», que prometiam reavivar fantasiosos tempos gloriosos e purificar raças!
Durante os anos que se seguiram imediatamente à Revolução Gloriosa em Inglaterra, «entusiasmo» era um termo pejorativo britânico para a defesa de qualquer causa política ou religiosa em público, isto é, fanatismo.
Esse «entusiasmo» foi visto na época por volta de 1700 como a causa da Guerra Civil Inglesa do século anterior e das suas atrocidades, e, portanto, era um pecado social absoluto lembrar aos outros essa guerra, envolvendo-se no entusiasmo.
Qualquer pessoa que discutisse religião ou política numa reunião de pessoas comuns seria sumariamente expulsa por ser um «entusiasta».
As constituições europeias, fundadas com base no chamado contrato social, pareciam ter atirado os «entusiastas» para o esgoto da vida em sociedade e da civilização. É evidente que as pragas deixam sempre semente que se reaviva quando as condições se proporcionam. (a atual pandemia é um «avivamento» de um mal antigo)
Houve já neste século vários entusiastas que causaram danos humanos e civilizacionais que nos deviam ter vacinado, casos das I Grande Guerra, da Segunda Guerra Mundial, das guerras de descolonização, das guerras religiosas, das guerras pelo petróleo e matérias primas.
As civilizações e as culturas de base grega e latina, genericamente a Europa e as Américas estão a reviver hoje o avivamento dos «entusiastas», isto é dos fanáticos.
Portugal tem um exemplar rasca de entusiasta, mas o facto de ele ser tão rasca e esbracejante ainda torna mais chocante o entusiasmo que ele provoca e os avivamentos que propõe, a defesa dos privilégios, da pena de morte, o fim dos estado social... (coisas entusiasmantes).
A política dos «entusiastas» tem resultados conhecidos. O «entusiasta nacional» tem exposto com crueza a sua nudez e as suas taras. Os seus seguidores não vão atrás dele enganados. Os complacentes não terão desculpa.

Lidar com «entusiastas» coloca o mesmo dilema de responder aos pequenos cães rafeiros, se os ignoramos nunca mais nos largam as canelas nem param de ladrar, se lhes damos um pontapé somos acusados de maus tratos a um ser desprezível.

Carlos Matos Gomes

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