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sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Na opinião de Poiares Maduro:

Miguel Poiares Maduro - [Rui Rio] critica aquilo, sim, que é infelizmente uma cultura política em Portugal, muito dominante, partilhada durante muito tempo por ambos os partidos mas mais pelo Partido Socialista do que pelo PSD, na verdade. Uma cultura de excessiva proximidade ao poder judicial, e muitas vezes tentativas de controle do poder judicial. E, nesse sentido, acho que seria mau para o PSD se o PSD abdicasse daquilo que é um activo seu, politicamente, que é aquele de ter sido um partido que mostrou muito mais capacidade de defender essa separação clara do poder político do poder judicial do que o Partido Socialista, na minha opinião, o fez.

Fonte – minuto 5:49

Este Maduro passa por ser um dos melhor quadros sociais-democratas, supostamente trazendo intelectualidade cosmopolita para a terrinha, e sendo um legítimo candidato a presidente do PSD dentro de 10 anos. Promessa de renovo no laranjal? Nada disso, pá. Aqui o temos a cavalgar a estratégia da calúnia e a retórica do ódio, dizendo que os socialistas pretendem dominar as instituições judiciais para obter protecção e ganhos políticos, enquanto no PSD se defende a pureza da República e a integridade do Estado de direito, acrescenta.

Podemos saltar por cima da ausência no seu discurso de qualquer facto, sequer de meia vogal, donde pudéssemos extrair uma qualquer informação para ficarmos a saber do que fala. Porque ele não fala de nada que tenha relação com a realidade. A realidade é precisamente ao contrário, com a direita não só a usar a Justiça para fins políticos onde o PS é um alvo a criminalizar como a permitir-se perseguir os magistrados que resistam às golpadas – casos de Pinto Monteiro, Noronha do Nascimento e Ivo Rosa. O descoco e impudência é tão grande que vimos Cavaco Silva e Passos Coelho em campanha contra Marcelo e Costa por estes não aceitarem a duplicação do mandato da comissária política Joana Marques Vidal.

Mas se do Poiares Maduro nada há então a esperar que remeta para a decência e para os valores fundantes da Constituição, os problemas resultantes do que disse num canal de televisão estatal atingem a jornalista ao seu lado e o comentador à sua frente. Os quais ficaram calados depois de ouvirem a bojarda de ser o PS um partido antidemocrático, uma força de perversão gravíssima da vida em comunidade. A mensagem não foi explicitamente directa como a traduzo na frase anterior mas essa mesmíssima ideia fica indelevelmente implícita nas suas sonsas e trôpegas palavras. Não se pode negar, caso haja vestígios de honestidade intelectual na mioleira, que o fulano quis deixar uma imagem maniqueísta onde os socialistas eram demoníacos na sua relação com a Justiça e os sociais-democratas uns anjinhos. Que podemos concluir, relativamente à idoneidade da jornalista e à responsabilidade do comentador, face à sua ausência de reacção?

Contudo, o maior problema nem é o que os três indivíduos disseram ou deixaram por dizer na ocasião. O que se espalha profundamente corrosivo e tóxico com este episódio, por ser uma cópia de milhares de outros ao longo dos anos, é a normalização da impotência cívica. No fundo, Maduro e compadres que tais, o que estas figuras com exposição e influência mediática intentam quando caluniam em grau máximo o adversário é que ele apareça como inimigo. E aparecendo como inimigo passa a ser possível abusar de todos os poderes para o atacar pois, lá está, justifica-se recorrer a qualquer forma de defesa para eliminar o inimigo, o monstro, o Diabo. A audiência, que não tem forma de validar ou invalidar a acusação pois nada nela existe de tangível, entende pelo menos que está em curso uma guerra civil onde a própria Justiça é um campo de batalha. E, portanto, por sentir-se incapaz de participar na violência em curso, afasta-se da cidade esfomeando a sua inteligência, atrofiando a sua coragem e aprisionando a sua liberdade.

Folgam os pulhas, ocupando a ágora.

POR VALUPI

Do blogue Aspirina B 

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