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terça-feira, 14 de setembro de 2021

Sport Clube de Freamunde - Vida e Glória (XXXIV)



ÉPOCA 1954 / 1955 (PRIMEIRA PARTE)

"MESTRE" NO COMANDO

Mesmo doente, o futebol transformava-se na modalidade mais popular em todo o mundo e a mais mobilizadora de multidões, não exercendo apenas funções lúdicas, vinculando, ainda, interesses económicos, políticos, sociais, etc.

Por cá, a direcção, presidida por Amâncio Vilhena Ribeiro - reconduzida, sem espanto, para novo mandato -, com o campeonato à porta, convidou António Araújo para dar continuidade ao trabalho desenvolvido como treinador principal.

Porém, como não podia assistir aos jogos, sensibilizou o atleta João Taipa para o cargo de seu auxiliar. A situação foi primeiramente aceite, após reunião com todos os elementos do grupo, abortada logo depois.

A notícia do impasse correu célere. Atento, Fernando Esteves ofereceu-se para "timoneiro da nau," mas o alvo preferido estava já referenciado: Jacinto Mestre seria o técnico eleito para substituir o antigo internacional portista.

Chegou a Freamunde de olhos fechados - insinuava-se sobre o comportamento pouco abonatório de um ou outro atleta -, mas depressa os abriu. Os seus "meninos passaram, mesmo, a ser merecedores de "olhares" bem ternos.

Mestre, apesar de jovem, era disciplinador, culto e inteligente. Profundo entendedor, com recentes passagens pelo Sport Lisboa e Benfica (atleta) e Desportivo das Aves (treinador), alardeava um conhecimento superior dos meandros do futebol. Estudioso e perfeitamente enquadrado nos diferentes estilos que se praticavam um pouco por todo o lado, fazia prevalecer o pragmatismo, princípio fundamental em competição: querer e saber ganhar.

Jacinto Mestre deu ao jogo outra concepção, e então a estratégia ficou montada, de forma perfeita, como era preciso: este para aqui; aquele para ali, e o moderno 3x3x4, sistema que prometia e muitos admitiam definitivo e invencível.

Estava tudo prontinho a funcionar.

O treinador parecia saber da poda, numa terra onde não faltava nada: a hospitalidade, os sorrisos, o calor humano!

Mestre confiou no grupo, delineou objectivos, teve crença, criou empatias.

Até na vertente física era exigente!

Com a sua refinada ironia, confidenciou-nos, a talho de foice, José Maria "da Couta": «No final das sessões, eram tantas as dores nos músculos das "canetas" que mal podíamos com o peso das botas! Os pés ficavam num autêntico trambolho.

Mas nem tudo foram flores para o nosso orientador. Alguns adeptos - quase sempre os mesmos "ranhosos" -, por variados e discutíveis motivos, julgaram ter sido tiro no escuro a contratação do técnico.

No entanto, Jacinto Mestre haveria de revolucionar, em alguns aspectos, o futebol no clube.

Era apologista de um ataque rápido, precedido de jogadas compridas. Antes o jogo era curto, de passes miúdos, de pé para pé, muito agradável.

Por vezes, nós, jogadores, saudosos de tempos recentes, deixávamos a cartilha em casa e lá voltava o futebol rendilhado, bem ao nosso gosto.

A propósito, lembro-me de um jogo particular com o Leixões, em que, mesmo perdendo por 4-1, rubricamos lances de encher as medidas. Jacinto Mestre ficou tão eufórico que no final do encontro ofereceu-nos um copo d'água.»

Mestre, viu-se, todavia, confrontado com a inesperada saída de alguns craques. Uns rumaram a outras paragens, os demais abandonaram, pura e simplesmente, a prática desportiva. Por exemplo, Manuel Pinto ingressou no Vasco da Gama e ao Aliados de Lordelo foi cedido Zé Viana.

Para piorar a situação, o promissor Rui "da Praça" foi vítima, a meio da época, de uma lesão meniscal, apenas debelada com cirurgia.

Mas...para grandes males, grandes remédios. Deitando mão à "cantera", uma nova fornada de talentos haveria de surgir.

Duma assentada, saltaram do escalão mais jovem os "miúdos" Barbosa - já tinha efectuado alguns encontros na temporada anterior - Ivo e, os ainda juniores, Luís e Humberto.

A equipa rejuvenescia-se com garotada irreverente, mas de inegáveis recursos técnicos. Era o renascer de uma nova geração. Mesmo os arautos da desgraça, gente descrédita e impaciente, encontrava ali motivos de optimismo.

JOAQUIM PINTO - "SPORT CLUBE DE FREAMUNDE - VIDA E GLÓRIA"

 Do blogue Freamundense

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