Que vinha no voo Luanda, Lisboa, de regresso à Metrópole. Por esta hora - 17h40 - tinha duas horas e pico de voo.
Sobrevoamos Luanda e vi como era bonita. Na minha ida, fui de barco - Vera Cruz - não tive oportunidade de me inteirar como era Luanda.
Certo, certo, é que lá vinha contentíssimo da silva. Pudera! Depois de vinte e três meses ausente da família agora o mais importante era que o Avião Boeing 747 não sofresse nenhum percalço. Era o que vinha a pensar. Depois de muito sofrimento não queria morrer na “praia” como se usa dizer.
Tinha os meus pais, irmãos e namorada à minha espera em casa, só o meu pai é que se deslocou a Lisboa para me esperar. Não sabia! Foi uma surpresa.
Memorizava a fisionomia deles, quando no Ralis ao descer da Berliet que foi ao aeroporto para nos transportar, ouvi: - vem aí o soldado Manuel Pacheco – reconheci que era voz de meu pai.
Na voz estava igual. Na fisionomia não sabia pois era perto das duas horas da manhã do dia quatro de Abril de mil novecentos e setenta e três e a escuridão era imensa. Só os via por retrato.
Mas estava igual à minha partida. Só que mais velho dois anos como eu. Abraçamo-nos. Desloquei-me para a arrecadação militar para fazer o espólio.
Derivado à hora tardia pois éramos para ter embarcado da parte da manhã, mas o avião teve uma avaria – segundo disseram – o meu pai resolveu alugar um táxi que nos trouxesse.
Cheguei a Freamunde da parte da manhã. Pude ver como estava. O Lugar da Feira que é o centro de Freamunde estava como dois anos antes. O Lugar da Bouça a mesma coisa. Com um senão. Os seus residentes estavam mais velhos.
Quando entrei em casa – vivíamos numa ilha – vi a minha mãe a correr para mim para me abraçar. Estava mais velha! Mas bonita como sempre! Aqui não era o coração a sentir. Era o que os meus olhos viam.
Os meus irmãos, tinha uma catrefada deles mais novos que eu. Estavam sorridentes com a minha chegada. Pudera! Estavam fartos de ver os olhos de minha mãe com lágrimas por o filho estar ausente.
Era a lei da vida naqueles anos.
Hoje a quarenta e oito anos de distância dá-me para ir ao baú da minha memória buscar estas peripécias.
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