1. No mesmo dia em que umas
centenas de pascácios desceram a Avenida da Liberdade para comprovarem quão
poucos são, proclamando uma das muitas mentiras em que porfiam, conheceu-se o
relatório do European Social Survey sobre o racismo em Portugal. Por ele
corrobora-se o que já sabíamos: quase dois terços dos portugueses manifestam
comportamentos ou opiniões racistas e apenas 11% se livram de um preconceito
preponderante nos mais velhos, e em que nem a escolaridade, nem o rendimento
serve de demarcação. Há gente que muito poliu os bancos das escolas e
universidades e nada aprendeu para saber o que é a tolerância e confirma-se que
tanto faz ter conta bancária recheada como não, porque tanto ricos como pobres
são racistas de acordo com índoles cuja explicação residirá em tempos mais
recuados.
Sobre a passeata de sábado à
tarde pouco haverá a acrescentar: se, desde o 25 de abril, os fascistas mais
descarados têm encontrado expressão em grupúsculos ultraminoritários, as
expetativas futuras prometem não lhes serem mais animadoras. É que olhando para
aquela gente nem dá para reconhecer-lhes a capacidade de nos assombrarem.
Porque, sem disso se darem conta, são fantasmas de tempos idos a que jamais
pretenderemos regressar.
2. Era expectável o que anda a
acontecer: depois de semanas a remoerem o azedume de Portugal passar pela crise
do covid 19 com alguma benignidade, basta as coisas parecerem um pouco menos
dignas de elogio para saírem da sombra os que nela se acoitaram à espera de
ganharem protagonismo no que julgam ser momento propício. O bastonário da Ordem
dos Médicos é tipo D. Constança, presença inevitável em cada festança onde
manda o protocolo dizer cobras e lagartos do governo. E Rui Rio volta-se a
mostrar o homem sem qualidades, que tantas circunstâncias passadas já
confirmaram.
Não cuide o PS de manter as
pontes possíveis com os parceiros da dita geringonça e arrisca-se a vê-los
darem a mão ao PSD para levarem o antigo autarca do Porto ao colo até São
Bento. Com manifesto prejuízo para todos quantos viram minguados os direitos e
os rendimentos entre 2011 e 2015. Porque Rui Rio confirma aquela regra debitada
pelo personagem de Lampedusa que, afiançava a necessidade de, querendo-se os
ricos mais ricos e os pobres mais depenados, mudar alguma coisa para que tudo
ficasse na mesma. E, de facto, o PSD de Rui Rio em nada se diferencia do de
Passos Coelho: as moscas que nele moram são exatamente as mesmas...
Publicada por jorge rocha
Do blogue Ventos Semeados
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