Três partidos conseguiram apenas
um deputado nas eleições de outubro e todos eles têm dado provas da completa
injustificabilidade de ganharem assento na Assembleia da República. Joacine
estoirou em poucas semanas a complacência, que pudesse haver para com a sua
gaguez ao contrariar a lógica de qualquer partido de esquerda em condenar os
crimes perpetrados pelos israelitas contra os palestinianos. O Ventura do Chega
não consegue explicar porque escreveu uma tese universitária em completa
contradição com o discurso xenófobo e racista, que lhe temos conhecido desde
que, sem qualquer razão para isso, saiu do merecido anonimato. E o Cotrim da
Iniciativa Liberal prima igualmente pela contradição de diabolizar qualquer
apoio do Estado aos bancos em dificuldades, quando dele beneficiou ao assumir a
direção do falido BPP, só aceitando o cargo quando dele teve efetivas
garantias.
Principalmente no caso dos dois
últimos verifica-se a regra de querer que olhemos para o que dizem e não para o
que, anteriormente, fizeram. Razão para que lhes denunciemos a duplicidade
esperando que quem se deixa vigarizar pelas suas palavras ganhe alguma lucidez.
Por estes dias tem sido,
igualmente, curiosa a descabida presença de responsáveis católicos na nossa
imprensa. O cardeal de Lisboa continua a ter tempo de antena em horário nobre
na RTP como se a Igreja Católica mereça mais privilégios do que outras
religiões e ponha em causa o imperativo de laicidade da comunicação social do
Estado. Mas a intervenção mais elucidativa de uma certa forma de pensar dos
bispos portugueses esteve bem explicitada na entrevista dada ao «Público» pelo
titular da diocese do Porto, um tal Manuel Linda, que lamentou o fecho de 17
colégios após as medidas de racionalização dos contratos de associação com
estabelecimentos do ensino privado e pretendeu lançar o alarme social sobre o
fim do apoio aos «velhinhos» por parte de centros paroquiais, que «só» recebem
do Estado 30% do que supostamente gastam com essa «ação social».
O que se conclui de tal
entrevista é a intenção da Igreja Católica prosseguir nas ações caritativas,
que justificam a falsa ideia de praticar o bem, mas afinal pagas pelo dinheiro
de todos nós.
Que os crentes sejam convidados a
participar nessa estratégia de afirmação da sua instituição na comunidade não há nada a objetar. O problema é quererem
que sejam todos os contribuintes, mesmo os ateus e agnósticos, a colaborar com
dinheiro no que, há séculos, integra a sua estratégia proselitista. Porque os
apoios aos mais desfavorecidos devem partir do Estado através das instituições
públicas tuteladas pela Segurança Social. Só assim se verifica uma verdadeira
separação entre o Estado e a Religião tal qual se consagra na nossa
Constituição.
Publicada por jorge rocha
Do blogue Ventos Semeados

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