Dos assuntos preteridos por outros afazeres, mas que merecem que a eles
volte por serem significativos do sucedido ao longo da semana avultam três,
sobre que passo a opinar sinteticamente:
- a entrevista ao antigo
Procurador Geral da República Pinto Monteiro foi silenciada pelos que o
detestam e temem ver alterado o estado de coisas, que ele denuncia. Mormente
que o Sindicato dos Magistrados - cuja existência poucos entendem por
representar os que pretendem ser órgão de soberania! - atua ilegitimamente
junto de quem tutela os seus «associados» para que sejam estes a tomar de
assalto a condução de todo o poder judicial e, por arrasto, o do executivo e do
legislativo. Olhando-se além-fronteiras, nomeadamente para a Itália e para o
Brasil, e quais foram as consequências práticas de ver juízes a quererem
impor-se ao poder político, importa que os partidos se concertem para cortar
cerce as cabeças de uma hidra ansiosa por alcançar a ambicionada ditadura
judicial.
- a nota emitida pela
Presidência da República a propósito da morte do coronel Varela Gomes confirma
o que já sabíamos: é difícil a Marcelo deixar de ser quem é, ou seja, um filho
e afilhado de fascistas. Chamar ditadura constitucionalizada ao salazarismo
constitui uma tentativa de branquear o que não tem qualquer merecimento de
perdão. E não invocar sequer a importância dos combates corajosos do
antifascista agora desaparecido nos combates pela Liberdade e pela Democracia
só revela a sua coincidência íntima com
o CDS, partido que contrariou o voto de pesar maioritário da Assembleia da
República, mostrando-se coerente com a sua essência. Mas se Assunção Cristas e
os seus comparsas julgavam, assim, enobrecer-se com a condenação da memória de
Varela Gomes, bem se enganaram. Seria o coronel a ser amesquinhado se os
herdeiros daqueles que sempre combateu viessem agora carpir lágrimas de
crocodilo em sua intenção. Quarenta e quatro anos depois da Revolução de Abril
não há que enganar: os fascistas do passado continuam a sê-lo inequivocamente
no presente. E têm de ser incessantemente denunciados, neutralizados…
- a dissociação do CDS da
democracia-cristã é só a concretização da mudança nele operada por Paulo
Portas. Esquecida a doutrina social da Igreja, que a própria parece fadada a
esquecer tendo em conta a versão assistencialista, que gostaria de imprimir à
sua ação junto dos mais pobres, escusando-se de por eles se bater politicamente
de acordo com o concretizado por alguns dos seus mais prestigiados «principes »
(de que parece apenas restar D. Januário Torgal!), temos o partido dos
herdeiros do salazarismo a assumir-se como aquilo que é: a correia de
transmissão dos interesses dos novos candidatos a Donos Disto Tudo por
intermédio dos grandes escritórios de advogados, onde peroram os Lobos
Xavieres, os Paulos Núncios e outros que tais.
Os três temas aqui sumariamente abordados denotam a evidência do atual
momento político: na luta de classes em ebulição por causa das desigualdades,
que as instituições europeias continuam a considerar exageradas em relação ao
padrão médio verificado no resto da União Europeia, os desfavorecidos têm
poucos a apoiá-los no seu lado da barricada, porque do outro estão os juízes,
os procuradores, o Presidente da República, os partidos das direitas e,
sobretudo, quem a todos eles transforma em marionetas agitadas mais ou menos
freneticamente na defesa da exigência a abocanhar o melhor quinhão da riqueza
nacional deixando aos demais umas meras migalhas...
Publicada por jorge rocha
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